De acordo com dados divulgados pelo Instituto de Apoio à Criança, em 2022, a linha SOS Criança recebeu cerca de 1600 chamadas relativas à saúde mental e maus tratos físicos. Este número quase triplica os pedidos de ajuda de 2019.
O indicador é significativo e está
em linha com múltiplos estudos que referem a deterioração do bem-estar e
saúde mental de crianças e jovens, mas também de adultos.
Deste quadro resulta a
necessidade e urgência de atenção à saúde mental de crianças e jovens ainda que
habitualmente a saúde mental seja um parente pobre das políticas públicas de
saúde.
Assim, é fundamental que as
comunidades educativas tenham os recursos ou dispositivos de acesso a esses
recursos que acomodem as situações de vulnerabilidade psicológica e mal-estar.
As crianças e adolescentes com necessidades específicas estarão muito provavelmente
em situação de risco acrescido.
Crianças e adolescentes são mais
resistentes do que por vezes parecem, felizmente. No entanto, importa um
ambiente sereno que tranquilize e apoie alunos, professores, pais e técnicos.
É preciso sublinhar que também os
professores e todos os que estão nas escolas precisam dessa tranquilidade,
valorização e reconhecimento para que possam ter mais bem-estar e melhor
ensinem, apoiem e aprendam.
É importante não esquecer que,
para além dos recursos, insuficientes, existem circunstâncias de risco para os
quais se exigem políticas públicas adequadas.
Contextos familiares vulneráveis
são, por exemplo, uma ameaça ao bem-estar e saúde mental de crianças e
adolescentes.
Por todo este cenário é crítico
que a recuperação no plano das aprendizagens estivesse associada a uma forte
preocupação com a saúde mental de alunos e professores com os apoios e recursos
necessários.
Uma nota para sublinhar a
importância de que os recursos e iniciativas a desenvolver integrem as escolas
no âmbito da sua autonomia e não “apareçam” traduzidos numa imensidade de
projectos e iniciativas vindas “de fora” como, lamentavelmente, é frequente.
Como cantava o Zeca Afonso, “seja
bem-vindo, quem vier por bem”, e como é evidente, registo todas as iniciativas,
projectos, experiências de inovação, etc., que possam contribuir para minimizar
ou erradicar problemas, mas já me falta convicção no impacto do modelo mais
habitualmente seguido.
Com demasiada frequência muitos
destes projectos vêm de fora das escolas, as origens são variadas, não chegam a
envolver a gente das escolas, esmagada pelo trabalho, burocracia e outros
constrangimentos como, por exemplo, assegurar da melhor forma possível o
dia-a-dia do trabalho educativo que tem de ser realizado.
Tenho para mim, que não podendo a
escola responder a todas as questões que afectam quem nelas passa o dia, poderia, ainda assim, fazer mais se os investimentos feitos no mundo à volta da
escola e que lhe vem bater à porta com propostas fossem canalizados para as
escolas.
Com real autonomia, com mais
recursos e com modelos organizativos mais adequados e processos menos
burocratizados, as escolas poderiam fazer certamente mais e melhor que quem vem
de fora numa passagem transitória, mais ou menos longa, mas transitória. Sim,
tudo isto deveria ser objecto de escrutínio, regulação e avaliação também
externa, naturalmente.
Escolas com mais auxiliares,
auxiliares informados e formados podem ter um papel importante em diferentes
domínios.
Directores de turma com mais
tempo para os alunos e menos burocracia poderiam desenvolver trabalho útil em
múltiplos aspectos do comportamento e da aprendizagem.
Psicólogos e outros técnicos em
número mais adequado, o que se verifica poderiam acompanhar, promover e
desenvolver múltiplas acções de apoio a alunos, professores, técnicos e pais.
Mediadores que promovessem
iniciativas no âmbito da relação entre escola, pais e comunidade seriam, a
experiência mostra-o, um investimento com retorno.
São apenas alguns exemplos de
respostas com resultados potenciais com um custo que talvez não seja superior
aos custos de tantos Projectos, Planos, Programas ou Iniciativas Inovadoras
destinadas a múltiplas matérias e com custos associados de “produção” que já me
têm embaraçado, mas a verdade é que as agendas e o marketing têm custos.
Está em jogo o desenvolvimento
escolar e pessoal de crianças, adolescentes e jovens, ou seja, do futuro
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