O calendário das consciências determina que no dia 20 de Novembro se assinale o Dia Universal dos Direitos da Criança assente numa dupla comemoração, a proclamação da Declaração dos Direitos da Criança (1959) e adopção da Convenção sobre os Direitos da Criança (1989) pela Assembleia Geral das Nações Unidas.
É verdade que nestes 64 anos,
pensando sobretudo na realidade portuguesa, muito evoluímos também no que
respeita ao universo dos mais novos. No entanto, os Direitos da Criança
continuam uma agenda por cumprir em múltiplas dimensões e por muitas e
diferentes razões.
Os ventos malinos que sopram e o
enorme conjunto de dificuldades que atravessamos apesar de algumas melhorias,
ancorados num quadro de valores que tende a proteger mercados e interesses
outros que conflituam com os interesses e bem-estar da maioria das pessoas vão
criando exclusão, pobreza e negação de direitos. Aliás, é frequente o
entendimento de que os direitos devem ser entendidos como sendo de geometria
variável, ou seja, dependem da conjuntura económica pelo que os que menos têm
também terão os seus direitos diminuídos.
Neste cenário, conforme os
estudos e a experiência mostram, os mais novos constituem um grupo
especialmente vulnerável. Aliás, recordo uma expressão de Laborinho Lúcio
considerando que entre nós e em muitas circunstâncias, os direitos dos menores
também parecem direitos menores.
Nesta vulnerabilidade existem
três áreas em que me parece que os direitos estão particularmente ameaçados, as
crianças e adolescentes em risco de maus tratos, abusos e negligência, a
pobreza infantil e o direito à equidade nas oportunidades de acesso à educação
de qualidade para todas as crianças, sublinho, todas as crianças.
De uma forma geral, os discursos
e a retórica política sempre acentuam a importância destas matérias, mas é
preciso ir um pouco mais longe. Por exemplo, dotar as Comissões de Protecção de
Crianças e Jovens dos meios suficientes e qualificados para a detecção e
acompanhamento eficaz dos casos de risco, ou caminhar no sentido de diminuir o
número de crianças institucionalizadas e sem projecto de vida.
No que respeita ao risco de
pobreza, as crianças são sempre o elo mais fraco de uma sociedade com um fosso
demasiado grande entre os mais ricos e os mais pobres. As políticas sociais não
podem deixar de entender como prioritário, sobretudo nos tempos que
atravessamos, os apoios sérios e fiscalizados aos problemas das famílias que
envolvem, necessariamente, os mais novos. É o seu futuro que está em causa.
No que respeita à educação, a
equidade e o objectivo de que todos atinjam o patamar possível de sucesso
educativo e qualificação é o grande desafio. Os discursos políticos nunca
esquecem o grande desígnio da educação ou a paixão pela educação. Os preâmbulos
dos normativos são excelentes peças de retórica sobre direitos e qualidade.
No entanto, precisamos mesmo de
caminhar de forma séria e não tentados pela sedução do sucesso estatístico,
para a qualidade dos processos educativos que se traduza nos níveis de
qualificação das pessoas (não da simples certificação), na diminuição das taxas
de abandono e insucesso, enfim, na construção de projectos de vida viáveis e
bem-sucedidos. Muitas crianças e adolescentes com necessidades especiais vêem
atropelados os seus direitos a dimensões básicas da qualidade de vida, a
educação, por exemplo.
A escassez de recurso de
diferente natureza que permitam apoios suficientes, competentes e em tempo útil
são constrangimentos grandes que ameaçam os direitos de crianças e
adolescentes.
Torna-se imperativo promover a
participação e fazer ouvir, escutando, a voz dos mais novos.
Continuamos com uma agenda por
cumprir no que respeita ao seu bem-estar
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