Segundo a imprensa, a operação (Censos Sénior 2023), realizada pela GNR em Outubro, identificou mais de 44.100 idosos que vivem sozinhos e/ou isolados, ou ainda em situação de vulnerabilidade.
Os distrito com mais idosos
sinalizados foram Guarda (5.477), Vila Real (5.360), Viseu (3.528), Faro
(3.513), Bragança (3.347) e Beja (3.230) .
De facto, Portugal é um país
particularmente marcado pelo rápido envelhecimento da população. Temos duas
vezes mais idosos que crianças e jovens, Portugal é o país da União Europeia a
envelhecer mais rapidamente, com quase duas vezes mais idosos do que crianças e
jovens, 182 por cada 100, dados da PORDATA. A mudança que tem vindo a
verificar-se sugere que a situação se vá acentuando. O director Observatório da
Solidão refere que "Os nossos dados apontam para que exista a
possibilidade de solidão em cerca de 5 em cada dez pessoas".
Num tempo em que toda a gente
parece integrar uma ou várias redes sociais parece estranha a referência à
solidão que se pode tornar numa condição de alto risco. Muitos trabalhos
identificam consequências sérias da solidão, quer na saúde física, quer na saúde
mental.
De facto, a solidão, o
sozinhismo, é uma condição que afecta imensa gente de várias idades, mesmo nos
mais novos, mas que atinge com particular incidência os mais velhos e tem vindo
a acentuar-se na sequência da alteração dos estilos de vida e dos valores que
tecem a vida das comunidades que vão perdendo as relações de vizinhança.
No entanto a questão agrava-se
com os muitos que, para além de viverem sós, vivem isolados. São sobretudo
estes que o sozinhismo ataca.
De facto, algumas pessoas, por
condições económicas, dignidade e preservação da autonomia vivem sós, mas não
estão isolados. Outros acumulam, vivem sós e isolados, por impotência, falta de
recursos ou de família.
Apesar do que consta nas
certidões de óbito, especialmente nos tempos do frio, estou convencido que a
verdadeira causa da morte de muitos velhos é o sozinhismo, a doença que ataca
os que vivem sós, isolados, que perderam o amparo. Ataca especialmente os velhos,
mas não só os velhos.
Trata-se de uma doença moderna,
cujas causas são conhecidas, cujo terapia também está encontrada, mas que
parece difícil combater. Estão em extinção as relações de vizinhança e a
vivência comunitária, fontes privilegiadas de protecção dos mais velhos.
Quem não vive só, isolado, mais
facilmente resiste às mazelas de diferente natureza que a idade traz quase
sempre. As pessoas são, espera-se, fonte de saúde e calor. E o frio que está a chegar aumenta a necessidade desse calor.
Reafirmo que, embora tenha
referido mais em particular a situação dos velhos, o sozinhismo também ataca
crianças e jovens com consequências por vezes devastadoras.
Na verdade, o sozinhismo poderá
ser verdadeiramente a causa ou o gatilho de problemas para muita gente.
No entanto e como sempre, para
além das necessárias políticas sociais emergentes do estado e das instituições
privadas de solidariedade impõe-se a percepção pelas comunidades,
designadamente pelas famílias, do drama da solidão e do isolamento.
Na peça são referidas diferentes
iniciativas, por cá e fora, que podem ser bons contributos no combate à solidão.
É sempre questão de redes
sociais, mas não das virtuais.
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