O sistema educativo português parece condenado a uma dimensão de conflitualidade e instabilidade que lhe retiram serenidade e eficácia. São múltiplos e regulares os exemplos de conflitualidade e raros os entendimentos significativos.
Não sou defensor de falsos consensos, a chamada paz podre,
conseguida a qualquer preço. A conflitualidade em educação, como noutras áreas,
pode e deve ser, também, um factor de desenvolvimento e crescimento.
Sucessivas equipas do ME também se têm esforçado pela alimentação desta permanente conflitualidade com medidas que, apesar de se assumirem, algumas, com objectivos importantes e sendo matérias de necessária mudança, são muitas vezes inadequadas e obedecem a critérios dificilmente sustentáveis do ponto de vista da qualidade e equidade do sistema público de educação.
Por outro lado, numa atitude reactiva, mas também inscrita
na profunda luta política em que a educação se transformou em Portugal, a quase
totalidade dos parceiros envolvidos acotovelam-se na defesa da corporação de
interesses que representam acabando, lamentavelmente, por ser parte do problema
mais do que da solução. Toda a gente tem os seus interesses federados num
qualquer sindicato. Isto envolve professores, técnicos e funcionários, políticos,
pais, estruturas de formação de professores, autarquias, comunicação social,
etc. Este quadro leva a que, em Portugal, a qualidade na Educação pareça ter de
se desenvolver contra estes grupos e não com estes grupos, com o resultado que
se conhece.
Vai sendo de tempo de entendermos que a educação é um
problema nosso e que, com papéis e modelos diferenciados, temos de encontrar de
forma minimamente concertada caminhos para uma formação de qualidade e exigente
dos que menos vêem os seus interesses representados, os alunos e as famílias,
em particular os alunos e as famílias em situação mais vulnerável por várias
razões.
Para isso, é preciso que se tornem claros os interesses em
conflito e que, sobretudo, se perceba que os miúdos estão nas escolas e exigem
que lhes proporcionem contextos educativos com alguma serenidade e de qualidade.
Importa entender como factor de desenvolvimento
a existência de diferentes posicionamentos sobre educação e escolas
designadamente no entendimento do que deve ser um sistema público de educação e
ensino. É legítimo e desejável que assim seja em sociedades abertas e democráticas
independentemente das nossas posições de natureza mais individual. Recordo como
tantas vezes aqui discordei de dimensões da política educativa de Nuno Crato,
Maria de Lurdes Rodrigues ou da actual equipa do ME, só para citar dois
exemplos fortes entre antigos responsáveis e com raízes políticas diferentes.
A questão não é a existência destas diferentes visões sobre
os caminhos da educação. Os problemas, a instabilidade, emergem quando essas
diferentes visões e posicionamento perdem de vista os interesses e o bem-estar
educativo de todos os alunos, o clima das escolas e passam a acomodar, sobretudo, outros interesses
sejam partidários, corporativos, profissionais ou económicos.
É neste quadro que a conflitualidade corre o risco de ser
parte do problema e não uma busca por soluções. Não está também em causa a
legitimidade de alguns destes interesses, mas o risco da sua gestão ameaçar a
serenidade e qualidade do trabalho de alunos, professores e escolas.
Será assim tão difícil numa sociedade democrática encontrar
algum entendimento em questões essenciais na educação como, sem hierarquizar ou
esgotar, autonomia e gestão da escola, currículo, avaliação interna e externa,
valorização dos professores e modelo de carreira ou papel das autarquias?
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