sábado, 24 de julho de 2021

E O FUTURO?

 Numa peça do Expresso aborda-se com base em dados do Eurostat a problemática da chamada geração “nem, nem" ou, na terminologia em inglês, NEET (Not in Education, Employment or Training), não estudam ou realizam formação profissional, nem trabalham.

Depois de alguns anos a baixar a percentagem de jovens nesta situação, a pandemia produziu um aumento significativo. Como indicador, a percentagem de jovens nem-nem passou de 10,9% no quarto trimestre de 2020 para 12,4% (261,8 mil jovens) nos primeiros três meses de 2021. É preocupante e um dos múltiplos efeitos destes tempos negros.

Também foi conhecido um outro dado preocupante fortemente associado, o aumento do abandono no ensino superior.

Em nome do futuro, a reversão deste trajecto deveria ser uma prioridade em qualquer plano de recuperação. Aguardemos pelo que trará o Plano de Recuperação e Resiliência.

Parece importante assinalar que, globalmente esta situação afecta, sobretudo, os jovens que menos qualificações adquiriram e mais as mulheres. A exclusão da escola é quase sempre a primeira etapa da exclusão social.

A estes indicadores já profundamente inquietantes deve juntar-se os dados sobre precariedade, abuso do recurso a estágios e outras modalidades de aproveitamento de mão-de-obra barata e a prática de vencimentos que mais parecem subsídios de sobrevivência mesmo para jovens altamente qualificados.

Esta situação complexa e de difícil ultrapassagem tem obviamente sérias repercussões nos projectos de vida das gerações que estão a bater à porta da vida activa. Entre outras, contar-se-ão, o retardar da saída de casa dos pais por dificuldade no acesso a condições de aquisição ou aluguer de habitação própria ou o adiar de projectos de paternidade e maternidade que por sua vez se repercutem no inverno demográfico que atravessamos e que é uma forte preocupação no que respeita à sustentabilidade dos sistemas sociais. As gerações mais novas que experimentam enormes dificuldades na entrada sustentada na vida activa, vão também, muito provavelmente, conhecer sérias dificuldades no fim da sua carreira profissional.

No entanto, um efeito muito significativo, mas menos tangível do desenvestimento ou impossibilidade na formação, desta precariedade no emprego e na construção de um projecto de vida autónomo e sustentado, é a promoção de uma dimensão psicológica de precariedade face à própria vida no seu todo e que, com alguma frequência, os discursos das lideranças políticas acentuam. Dito de outra maneira, pode instalar-se, estará a instalar-se em muitos jovens, uma desesperança que desmotiva e faz desistir da luta por um projecto de vida de que se não vislumbra um futuro mobilizador e que recompense.

O aconchego da casa dos pais, muitas famílias também enredadas em dificuldades, pode ser a escapatória para a sobrevivência, mas pode potenciar o risco da desistência o que certamente poderá ter implicações sérias.


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