quinta-feira, 15 de julho de 2021

UMA CONVERSA SOBRE ECRÃS E MIÚDOS

 Uma boa parte da manhã foi dedicada à gravação que me foi solicitada de um “podcast” sobre a temática genérica, “Os ecrãs na vida das crianças”.

A solicitação decorreu, como seria de esperar, da presença crescente dos recursos digitais, “os ecrãs”, no quotidiano dos mais novos, o que levanta algumas inquietações, mas, como não pode ser esquecido ou desvalorizado, das potencialidades também contidas na sua utilização como os últimos tempos bem mostraram. Aliás, por curiosidade, só estes recursos permitem a realização do “podcast”, sendo que eu estou no monte no Alentejo, já agora com uma “abafura” pouco simpática. Ainda assim nada de estranho, estamos no Verão.

O tema da conversa surge com muita regularidade no trabalho com pais e já muitas vezes aqui o tenho abordado.

Do ponto de vista das inquietações que potencialmente podem decorrer da utilização dos dispositivos digitais por parte dos mais novos procurei sublinhar dois aspectos que me parecem centrais e que a evidência e a experiência suportam, o tempo de exposição e os conteúdos.

No que respeita ao tempo de exposição a ecrãs a que muitas crianças estão expostas as orientações mais divulgadas sugerem não mais que uma hora por dia até aos cinco anos, para bebés não é desejável e um pouco mais a partir dos seis anos. Muitos estudos, incluindo alguns realizados em Portugal, mostram que o tempo de exposição é bem maior para muitas crianças. Um trabalho recente da Universidade de Coimbra envolvendo 8430 crianças dos três aos dez anos encontrou médias de 154 minutos diários até aos cinco anos e de 201 nos mais velhos.

O segundo aspecto central remete para os conteúdos a que as crianças podem ter acesso e que serão desadequados às idades ou mesmo conter riscos mais significativos e que também são conhecidos.

Importa, pois, que estejamos atentos, sobretudo os pais, a estas matérias. Os riscos da excessiva exposição serão de natureza diversa, saúde física (sedentarismo), bem-estar e desenvolvimento (socialização e comunicação, familiar por exemplo, ou o impacto negativo de alguns conteúdos), reflexos no desempenho escolar ou riscos emergentes do exterior.

Como não defendo por princípio estratégias proibicionistas, estes dispositivos são úteis e fazem parte do nosso quotidiano, sublinhei a importância de um acesso com duração razoável e uma utilização tanto quanto possível mediada por um adulto.

Também entendo que desde o início e de acordo com as idades se promovam estratégias de auto-regulação, quer no tempo de acesso, quer na percepção de conteúdos que não serão adequados.

É um trabalho que não é fácil, a oferta e acessibilidade são enormes e atractivas e também sabemos que estes dispositivos são úteis em várias dimensões pelo que a sua utilização é natural.

O essencial é promover a sua utilização de forma regulada, auto-regulada para as crianças mais velhas.

Talvez, nós adultos precisemos também de regular a exposição aos ecrãs. Somos nós que, com demasiada frequência, os transformamos em “baby sitters” dos mais novos.

São também assim os dias do Alentejo. Sinais dos tempos.

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