Um trabalho realizado pela Fundação José Neves, "Guia para jovens e pais: como escolher o que estudar?", ontem divulgado, mostra que o estatuto salarial de jovens com licenciatura é, em média, 42% superior ao dos jovens que têm apenas o ensino secundário.
Com base em dados de 2018, os jovens
entre os 25 e os 34 anos que completam ensino superior têm maior probabilidade de
emprego e de salário mais elevado.
O que me parece significativo é
que a diferença de estatuto salarial também se verifica para os jovens que após
o secundário realizam algum tipo de formação ou cursos Técnicos Superiores
Profissionais.
Este estudo está em linha com os
que têm sido realizados sobre a mesma matéria e que aqui tenho referido o que
torna profundamente errada a ideia ainda muito referida de que “estudar não
compensa”, “não vale a pena”.
Talvez seja de recuperar o
Relatório da OCDE, "Education at a Glance 2017" que mostrava que a
diferença salarial de jovens com licenciatura para jovens com formação a nível
do secundário, é de 69 %, um bom indicador para o impacto da qualificação. Para
comparação a média na OCDE é de 54%.
Recordo ainda um trabalho de
2017, por iniciativa da Fundação Francisco Manuel dos Santos, “Benefícios do
Ensino Superior”, realizado por Hugo Figueiredo e Miguel Portela que evidencia
como a qualificação de nível superior compensa sendo o impacto ainda mais
significativo com o mestrado.
O trabalho abrangeu o período
ente 2006 e 2015 e considerou a população mais jovem, dez ou menos anos de
experiência profissional e é mais um contributo para uma questão que muitas
vezes é tratada com alguns equívocos.
O primeiro, radica no discurso
recorrentemente difundido, ampliado por alguma imprensa preguiçosa, de que,
dada a enorme taxa de desemprego de jovens com qualificação superior, o
investimento numa qualificação superior não compensa pois não existe mercado de
trabalho, alguns empregos que surgem são precários e mal pagos e muita gente
qualificada está a ser empurrada para fora por falta de futuro cá.
Um outro equívoco remete para o
estatuto salarial. Apesar da política de proletarização do mercado de trabalho,
da precariedade e do manhoso recurso a estágios, nem sempre remunerados ou
seguidos de emprego, a formação superior ainda compensa.
Aliás, de acordo com um estudo do
Conselho Nacional de Educação divulgado em 2015 um indivíduo com formação
universitária, ao longo da vida activa, ganhará mais cerca de 1,7 milhões de
euros face a alguém com o 9º ano. Mesmo comparando com o 12º ano a diferença
continua muito significativa.
É claro que não podemos esquecer
o nível ainda significativo de desemprego entre os jovens, em particular entre
os jovens com qualificação superior, obrigando tantos a partir à procura de um
futuro que por cá não vislumbram, mas esta questão decorre do baixo nível de
desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, de circunstâncias conjunturais e
de erradas políticas de emprego e não da sua qualificação.
Neste cenário e como sempre
afirmo, o discurso muitas vezes produzido no sentido de que "não adianta
estudar" não colhe e não tem sustentação sendo “suicida” numa sociedade
pouco qualificada como a nossa que, efectivamente e contrariamente à tão
afirmada quanto errada ideia de que somos um país de doutores, continua, em
termos europeus, com uma baixa taxa de qualificação superior em
todas as faixas etárias incluindo as mais jovens.
Conseguir níveis de qualificação
compensa sempre e é imprescindível. Estudar e conseguir qualificação de nível
superior compensa ainda mais.
Portugal não tem gente
qualificada a mais, tem é desenvolvimento a menos. Não podemos acolher a
mensagem de que a qualificação não é uma mais-valia.
É um tiro no pé.
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