quarta-feira, 14 de julho de 2021

GOSTEI DE LER, "CARTA ABERTA AO MINISTRO DA CIÊNCIA: TIRE AS MÃOS DAS MINHAS AULAS"

 

No Público encontra-se a “Carta aberta ao ministro da Ciência: tire as mãos das minhas aulas”, enviada pelo Professor João Teixeira Lopes ao Ministro do Ensino Superior e da Ciência após a entrevista ao Expresso que estava associada a uma peça dedicada à “revolução em Curso nas universidades".

O texto de João Teixeira Lopes assume uma forte crítica à visão expressa pelo Ministro e que, aparentemente, algumas instituições de ensino universitário subscrevem e que também aqui comentei com preocupação.

(…) por um lado, regressa em força a primazia da ciência aplicada, à medida das encomendas, mercantilizada no seu âmago, pronta a usar. Por outro, transfere-se, uma vez mais, o dinheiro público para o setor privado, pois aquele investe na formação (demorada, cara) dos cientistas e profissionais que vão doravante trabalhar para satisfazer a procura, o ritmo e as oscilações dessa entidade metafísica chamada mercado. Finalmente, transformam-se os docentes em meros tecnólogos, formadores de aulas práticas e aceleradores da credenciação, pois o ministro, em provinciana referência, refere o exemplo holandês de mestrados express feitos em nove meses (por que não em três?) (…)

Também aqui expressei forte inquietação com que parece ser a “revolução em curso” e a visão do Ministro do Ensino Superior. Como escrevi, é bastante clara a perspectiva de uma Universidade representada como departamento de formação profissional para as empresas, um discurso excessivamente centrado no mercado de trabalho e nas suas necessidades ainda que, obviamente, esta dimensão não possa ser esquecida.

É evidente que a empregabilidade e a transferência de conhecimentos para o tecido económico são dimensões a considerar na organização da oferta formativa, mas existe um conjunto vasto e imprescindível de formação universitária de que não podemos prescindir com o fundamento exclusivo no mercado de emprego. Podemos dar como exemplo formações na área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num tecido universitário e social moderno e que cumpra o seu papel de construção e divulgação de conhecimento e desenvolvimento em todas as áreas. Aliás, em matéria de formação universitária continuo a defender que todas as áreas de formação deveriam contemplar no seu desenho curricular áreas como Ética, Filosofia ou História Contemporânea

Uma sociedade com gente formada e a investigar nestas áreas é uma sociedade mais desenvolvida.

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