No Público encontra-se a “Carta aberta ao ministro da Ciência: tire as mãos das minhas aulas”, enviada pelo
Professor João Teixeira Lopes ao Ministro do Ensino Superior e da Ciência após a entrevista ao Expresso que estava associada a uma peça dedicada à “revolução em Curso nas
universidades".
O texto de João Teixeira Lopes assume
uma forte crítica à visão expressa pelo Ministro e que, aparentemente, algumas
instituições de ensino universitário subscrevem e que também aqui comentei com preocupação.
(…) por um lado, regressa em
força a primazia da ciência aplicada, à medida das encomendas, mercantilizada
no seu âmago, pronta a usar. Por outro, transfere-se, uma vez mais, o dinheiro
público para o setor privado, pois aquele investe na formação (demorada, cara)
dos cientistas e profissionais que vão doravante trabalhar para satisfazer a
procura, o ritmo e as oscilações dessa entidade metafísica chamada mercado.
Finalmente, transformam-se os docentes em meros tecnólogos, formadores de aulas
práticas e aceleradores da credenciação, pois o ministro, em provinciana
referência, refere o exemplo holandês de mestrados express feitos em nove meses
(por que não em três?) (…)
Também aqui expressei forte
inquietação com que parece ser a “revolução em curso” e a visão do Ministro do
Ensino Superior. Como escrevi, é bastante clara a perspectiva de uma Universidade
representada como departamento de formação profissional para as empresas, um
discurso excessivamente centrado no mercado de trabalho e nas suas necessidades
ainda que, obviamente, esta dimensão não possa ser esquecida.
É evidente que a empregabilidade
e a transferência de conhecimentos para o tecido económico são dimensões a
considerar na organização da oferta formativa, mas existe um conjunto vasto e
imprescindível de formação universitária de que não podemos prescindir com o
fundamento exclusivo no mercado de emprego. Podemos dar como exemplo formações
na área da filosofia ou nichos de investigação que são imprescindíveis num
tecido universitário e social moderno e que cumpra o seu papel de construção e
divulgação de conhecimento e desenvolvimento em todas as áreas. Aliás, em
matéria de formação universitária continuo a defender que todas as áreas de formação
deveriam contemplar no seu desenho curricular áreas como Ética, Filosofia ou
História Contemporânea
Uma sociedade com gente formada e
a investigar nestas áreas é uma sociedade mais desenvolvida.
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