Duas ou três coisas que me parecem relativamente claras e simples que retomo de reflexões anteriores.
Os estilos de vida, as exigências de qualificação têm
tornado gradualmente a escola mais presente e durante mais tempo na vida de
crianças e adolescentes e, consequentemente, com reflexos na educação em
contexto familiar.
Creio que já dificilmente se entende que a “família educa e
a escola instrói”.
Creio que já dificilmente se entende que a escola forma
“técnicos” e não cidadãos, pessoas, com qualificações ao nível dos
conhecimentos em múltiplas áreas. Aliás, se bem repararem sempre falamos de
sistemas de educação e não de sistemas de ensino e ainda bem que assim é.
Creio que já dificilmente se entende que o conhecimento é
asséptico. O conhecimento, a sua produção e a sua divulgação, tem, deve ter,
sempre um enquadramento ético e não é imune a valores.
Creio que os tempos mais recentes são elucidativos de como a
abordagem de matérias como Direitos Humanos; Igualdade de Género;
Interculturalidade; Desenvolvimento Sustentável; Educação Ambiental; Saúde;
Sexualidade; Media; Instituições e Participação Democrática; Literacia
Financeira e Educação para o Consumo; Segurança Rodoviária; Risco,
Empreendedorismo; Mundo do Trabalho, Segurança defesa e paz, Bem-estar animal e
Voluntariado são fundamentais ao longo do processo de formação de crianças,
jovens e adultos.
Um sistema público de educação, desde há muito de frequência obrigatória e progressivamente mais extenso com qualidade é melhor ferramenta de promoção de igualdade de oportunidades, de equidade e de inclusão. É através de uma educação global que se minimiza o impacto de condições sociais económicas e familiares mais vulneráveis.
Já agora, uns indicadores que, do meu ponto de vista,
justificam com clareza a ideia de que “Educação e Cidadania para todos, porque sim”.
Considerando a violência nas relações de namoro, dados de
2019 Um trabalho que envolveu 4598 jovens, do 7.º ao 12.º com idade média de 15 anos, mostra
que para 67% é normal algum tipo de violência e 58% já terá sofrido pelo menos
um comportamento de agressão.
Relativamente ao bullying, os estudos em Portugal sugerem
uma prevalência entre 10 e 25% e a OMS indica que 1 em cada 3 crianças ou
adolescentes será vítima de bullying. No caso mais particular do bullying
homofóbico, um trabalho da Associação ILGA Portugal (2018) envolvendo 700
jovens dos 14 e aos 20 anos, refere que 73,6% já sentiu alguma forma de
exclusão intencional por parte dos colegas.
Consumo de drogas, dados de 2019. Entre os 13 e os 18 anos
aumentou o consumo de drogas não canábis e no grupo de 18 anos aumentou o
consumo de canábis. O número de overdoses aumenta há três anos.
O consumo de álcool por jovens está a aumentar desde 2017 e a delinquência juvenil, entre os 12 e os 16 anos, em 2019 aumentou 5,6% e a criminalidade grupal (gangues) aumentou 15,9%.
Assim, por estas razões simples entendo que "Educação
para a Cidadania" deve obrigatoriamente integrar o trabalho desenvolvido
na educação em contexto escolar.
Precisamos muito de discutir como fazer, não acredito na
disciplinarização destas matérias, julgo mais interessantes iniciativas
integradas, simplificadas e desburocratizadas em matéria de organização e
operacionalização.
Assim, por estas razões simples entendo que "Educação
para a Cidadania" deve obrigatoriamente integrar o trabalho desenvolvido
na educação em contexto escolar.
PS – O episódio dos
meninos de Famalicão que desencadeou esta reflexão é um outro problema, com
outros contornos e aspectos lamentáveis, mas que está a servir de gatilho e
alavanca para agendas outras. Os pais não são donos dos filhos e não vale tudo.
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