Li no JN que, de acordo com o despacho que fixa o calendário escolar do próximo ano lectivo, os agrupamentos de escolas podem semestralizar o calendário sem que estejam envolvidos num dos muitos planos de inovação que têm florescido.
Registo a autonomia e deixo uma notas a propósito dos tempos da escola.
Não tenho uma posição fechada sobre a organização do ano escolar em semestres
ou em trimestres. Tenho acompanhado as experiências já desenvolvidas organização
em dois semestres e as avaliações o que são conhecidas são genericamente
positivas, o que não me surpreende pois se assim não fosse teríamos um sério
problema com esta inovação. No entanto e certamente por défice de informação
não conheço e gostava de conhecer, estudos com alguma robustez
metodológica que identifiquem com clareza uma relação entre o funcionamento em semestres
e a mudança em dimensões identificadas do processo de ensino e
aprendizagem.
Por outro lado, as questões que muitas vezes se colocam
relativamente à organização por trimestres decorrem do calendário ser “indexado”
ao calendário de festas o que queria desajustados desequilíbrios na duração dos
três períodos com o potencial impacto nos processos educativos.
Assim sendo, é uma questão que merece reflexão alargada a
diferentes actores, estudando experiências de outros sistemas e com o recurso à avaliação do que já foi realizado.
Nesta reflexão deveria estar incluída a discussão dos
benefícios e eventuais efeitos negativos da criação de uma “pausa” a meio do
primeiro período modelo existente em vários países.
Creio mesmo que seria desejável que pudéssemos reflectir de
forma global para os tempos da escola considerando outros aspectos. Nesta
reflexão poderia estar incluída a discussão dos benefícios e eventuais efeitos
negativos da criação de uma “pausa” a meio do primeiro período modelo existente
em vários países.
Para esta reflexão pode ser útil recordar um estudo da rede “EurydiceTime in Europe - Primary and General Secondary Education 2019/20” ou
dados do trabalho da OCDE, “Education at a Glance 2019”.
Tal como tem sido mostrado em estudos anteriores os alunos
portugueses são dos que têm menos dias de aula no contexto europeu, mas,
curiosamente, as horas de aula são mais elevadas que a média, considerando
horário curricular e AEC. Os alunos do 1º ciclo os que mais horas de aula têm
durante o ciclo, cerca 1200 horas a mais face à média europeia.
Não é fácil o estabelecimento de um consenso sobre a
“melhor” organização dos tempos da escola as comparações internacionais devem
ser cautelosas pois as variáveis a considerar são múltiplas, a realização dos
exames, clima e parque escolar são algumas que importa não esquecer e analisar.
No entanto, para além da questão de semestres ou trimestres,
do meu ponto de vista, seria interessante reflectir de forma mais global sobre
os tempos da escola considerando outros aspectos.
Num país com as nossas condições climáticas, tal como
genericamente no sul da Europa, e considerando boa parte do nosso parque
escolar, aulas prolongadas até ao Verão seriam algo de, literalmente, sufocante.
Reconhecendo que a guarda das crianças nos horários laborais
das famílias é um problema sério e que reconheço, também entendo que não pode
ser resolvido prolongando até ao “infinito”, a infeliz ideia de “Escola a Tempo
Inteiro” em vez de “Educação a Tempo Inteiro”, a estadia dos alunos na escola.
A “overdose” é sempre algo de pouco saudável.
No que respeita aos tempos escolares já sabíamos, como
referi acima, que os alunos portugueses, sobretudo no início da escolaridade,
têm umas das mais elevadas cargas horárias. Como bem se sabe, mais horas de
trabalho não significam melhor trabalho e os alunos portugueses já passam um
tempo enorme na escola. Talvez seja de introduzir nesta equação a variável
“áreas disciplinares e currículos”, considerando o número de áreas ou
disciplinas, duração das aulas, organização de anos e de ciclos, etc.
Neste contexto, insisto, seria desejável reflectir com
tempo, prudência e participação sobre os tempos da escola.
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