Quando oiço alguém, miúdo ou graúdo, que me diz que não sabe ler ou que conhece outro alguém que não sabe ler eu pergunto sempre, “ler o quê?”. O mais habitual é o meu interlocutor ficar um pouco embaraçado e mostrar que não percebe a minha pergunta.
Ainda tive o privilégio de, já há muitos anos, contactar com
o Mestre João dos Santos, uma figura que merece referências que por injustiça e
desatenção tardam. Uma vez, a propósito das questões da leitura e do saber ler,
ouvi-lhe algo de que não mais esqueci, qualquer coisa como, “as crianças
aprendem a ler desde que nascem, os livros um bocadinho mais tarde”. Na
verdade, se bem atentarmos, toda a gente sabe ler.
Os bebés lêem muito bem as suas mães, tal como as mães sabem
ler os seus bebés.
Os bons pais são os que melhor sabem ler os filhos e os
filhos também vão sempre lendo os seus pais bem como tudo o que está à sua
volta, leitura essa que com clareza os ajuda a compreenderem-se e a compreender
o que está para além deles.
Na escola, como nas famílias, os bons professores são os que
melhor conseguem ler os miúdos, os seus comportamentos, as suas dificuldades ou
a sua alma. Os melhores alunos também lêem melhor tudo o que a escola lhes
coloca no caminho, tenha letras ou não.
Por isto tudo, fico sempre mais apreensivo com quem não quer
ler, letras, circunstâncias ou pessoas, do que com quem não sabe, ainda, juntar
letras. Toda a gente sabe ler.
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