Não sabia que existia o Dia Mundial da Rádio, mas seria previsível que tal acontecesse. A este propósito, o Público tem duas peças, uma muito bonita sobre o papel das rádios locais, o caso da Rádio Voz do Soraia, mesmo num tempo dominado pela globalização e a outra sobre esperadas dificuldades que as rádios locais enfrentam ainda que, como afirma o Presidente da Associação, estejam “vacinadas” contra as dificuldades e vão resistindo, sendo companhia diária de muita gente em muitas comunidades.
Esta peça fez-me andar para trás
no tempo, ainda sou do tempo dos dias da rádio. Foi uma viagem de que gostei ainda que não queira voltar para aqueles tempos.
Quando era miúdo, a rádio era o
tudo na nossa vida em matéria de música, a de alguns de nós evidentemente, pois
não tínhamos mais do que um aparelho de rádio lá em casa, muito bonito aliás,
panorama que mudou quando, pelos meus doze anos, entrou uma novidade
extraordinária, um gravador de cassetes, ainda uns aninhos antes de acedermos a um luxo
chamado televisão.
A rádio era assim a nossa janela
para o mundo para além de uma imprensa em papel que, salvo honrosas e
combatidas excepções, era muito cinzenta, como os tempos da época.
Conhecia a música e a informação
que a rádio estava autorizada a dar-nos a conhecer.
Felizmente que havia muita gente
que tentava contrariar o ditado musical e informativo da época, de diferentes
maneiras, abrindo assim umas janelinhas para outros mundos. Ainda me lembro de
algumas incursões de alguns programas em autores "proibidos" e da
audição às escondidas da BBC em onda curta para saber do outro lado do país.
Recordo como os relatos
desportivos feitos pelas estrelas do tempo de forma que quase nos levavam para
dentro dos estádios, eram seguidos lá em casa.
Nesta viagem plos dias da rádio e
esquecendo certamente memórias que não deveria recordo, o “Em Órbita” de Jorge
Gil no ar de 1965 a 2001 iniciado no antigo Rádio Clube Português, o “Pão com
Manteiga” sob a responsabilidade de uma equipa liderada por Carlos Cruz
integrando, por exemplo, Mário Zambujal ou os incontornáveis “5 minutos de Jazz
“ de José Duarte, iniciado na Rádio Renascença e “Oceano Pacífico” de João
Chaves, iniciado em 1984 na RFM.
Recordo ainda o tempo em que
gravava já tarde na noite com receio de que os cães dos vizinhos ladrassem umas
crónicas sobre educação que eram passadas semanalmente numa rádio local, creio que
já não existe, a Nova Antena da zona de Odivelas, era divertido, mas quando
tinha de repetir …
No que respeita à música e ainda
só com o já referido e “espectacular” gravador de cassetes, numa pirataria
ingénua, passei muitas horas de expectativa e ansiedade com o gravador
preparado para carregar no "Rec" e ir gravando as músicas que me
permitiam a constituição de "playlists" com as preferências. E como
odiava os homens da rádio quando resolviam falar em cima das músicas
inutilizando a sua gravação e o crescimento do meu acervo musical.
Hoje os tempos são outros, a informação chega de múltiplas fontes, tal como a música. No entanto, continuo a ouvir rádio, menos
que naquele tempo e do que a qualidade do que se vai fazendo justificaria.
Por outro lado, e tal como a peça
sobre a Rádio Voz do Soraia sublinha, as rádios locais são imprescindíveis no
seu papel junto de muita gente que, provavelmente, não acede regularmente a
outras plataformas de informação ou de música. A proximidade é pouco amigável para a globalização e massificação que caracterizam os tempos.
Não deixemos que os dias da rádio
fiquem ameaçados, fazem falta num mundo em que a proximidade é um bem de
primeira necessidade.
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