Quando foi anunciado o actual período de encerramento das escolas tive oportunidade de em algumas colaborações com a imprensa e nas reflexões que aqui deixo afirmar que me parecia ser importante ter alguma serenidade e prudência nas reacções a um novo período de ensino não presencial. Referi a necessidade de não sobrevalorizar, mas não esquecer, as consequências negativas que inevitavelmente surgirão para alguns alunos.
Tal entendimento não releva da crença mágica de que “vai
correr tudo”, “as escolas estão preparadas” ou dos discursos do Ministro da
Educação.
Não, não vai correr tudo bem, já lá iremos, mas acredito que
vai correr melhor do que no ano passado.
Em primeiro lugar, os professores e as escolas, vão colocar
o empenho e esforço com que habitualmente trabalham e neste nova etapa têm um
acervo de experiência e reflexão que permitirá minimizar o que no ano passado foi
menos eficaz, melhor utilização dos dispositivos digitais e melhor adequação
aos diferentes anos de escolaridade (idade) dos alunos na definição de trabalho
síncrono e assíncrono, mais contenção e critério na definição e duração de
actividades, maior atenção aos níveis de autonomia dos alunos o que poderá
minimizar a dependência do apoio dos pais. Esta afirmação não esquece o que de
muita qualidade foi realizado, mas recorda dimensões muito presentes no ensino
de emergência que foi estruturado.
Um outro aspecto que me parece de considerar é a experiência
também já adquirida pelos alunos e pelos pais que, conjugada com a dos docentes,
permitirá que o seu trabalho seja mais adequado, envolvido e eficaz.
Do meu ponto de vista, também não é irrelevante o facto de,
na actual circunstância, o horizonte temporal de encerramento ser, provavelmente, mais curto. Aliás, é imperioso que o seja salvaguardando, naturalmente, as questões de saúde pública.
Acresce que desta vez parece mais acautelado o apoio
presencial a alunos mais vulneráveis, com necessidades especiais ou
acompanhados pelas CPCJ bem como das equipas locais de intervenção precoce na
infância.
Acima referi não esperar que tudo vá correr bem apesar de
mostrar algum optimismo e confiança. O principal factor de risco continua a
ser, do meu ponto de vista, o incumprimento do prometido, para Setembro, equipamentos informáticos e de acessibilidade para alunos, professores escolas.
Os que já chegaram ás escolas são manifestamente
insuficientes apesar do esforço de algumas entidades como autarquias e
particulares. A prometida tarifa social no acesso a banda larga está também por
cumprir. Foi noticiada a assinatura de contratos de compra de equipamentos já
no final de Dezembro e hoje no JN é noticiada autorização aprovada pelo Governo
para a realização de despesa para a aquisição de computadores e ligação à net sendo que as aulas começam no dia 8.
Como é reconhecido, o efeito mais severo do ensino não
presencial sobretudo nos alunos mais novos foi, justamente, o acentuar da falta
de equidade, o acentuar dos efeitos das variáveis sociodemográficas colocando
muitos alunos mais distantes da escola.
Também creio que deveria estar a ser preparado,
eventualmente estará, mas as práticas anteriores são pouco animadoras, um plano
de retorno ao ensino presencial, não que tenha de ter datas, mas de
procedimentos, orientações no sentido de avaliação de efeitos e apoios
dedicados à recuperação.
A proactividade, apesar da complexidade da situação, é mais
amigável da qualidade que a reactividade embora saibamos, temos o exemplo de
Março de 2020, que às vezes há que reagir e avançar. No entanto temos já experiência
que deveria ajudar a regular o que actualmente vai acontecendo.
Creio que ainda estamos a tempo de apesar das dificuldades
podermos levar a generalidade das crianças e jovens a porto seguro, assim
saibamos e queiramos responder atempadamente e competentemente às suas
necessidades.
O Ministro afirma que “Sabemos que necessariamente (esta
geração de alunos) vão ter mais problemas de alergologia daqui a 20 anos.
Porque vão ser muito mais obesos. Vamos ter problemas oncológicos,
respiratórios, cardiovasculares, mentais. Não Senhor Ministro, tal não irá
certamente acontecer, muito menos pelas razões que refere.
Se fizer o seu trabalho, com maiores ou menores
dificuldades, como sempre e em todas as circunstâncias, escolas, professores, directores,
técnicos auxiliares, pais e alunos farão o que lhes compete. Correrá sempre
tudo bem? Não, estamos no universo da educação escolar e numa sociedade complexa e desigual.
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