Hoje lembrei-me de umas notas a propósito de desconfinamento, um tema que tem merecido raras referências nos últimos dias, e que pode justificar alguma reflexão.
Muito provavelmente o processo de desconfinamento que todos
desejamos será percebido genericamente como um retorno às normalidades.
Tal como noutros aspectos e com outros grupos, gostava que quando
acontecesse o processo de desconfinamento dos mais novos fosse
um pouco mais longe do que regressar aos espaços escolares ou a outras rotinas, às normalidades.
Sei que não será fácil, mas gostava que se aproveitasse o balanço e se
revalorizasse o brincar no exterior que por várias razões, segurança, estilos
de vida ou alteração das percepções sobre a infância e sobre a relevância do
brincar se foi perdendo em muitas contextos familiares. Nem sempre é uma
questão de tempo ou oportunidade, logo que seja possível voltaremos a ter os
grandes centros comerciais como “parque de diversões” para muitas famílias.
Como muitas vezes tenho escrito e afirmado em múltiplos
encontros com pais e técnicos, do meu ponto de vista, o eixo central da acção
educativa, escolar ou familiar, é a autonomia, a capacidade e a competência
para “tomar conta de si” como fala Almada Negreiros. A brincadeira, a rua, a
abertura, o espaço, o risco (controlado obviamente), os desafios, os limites,
as experiências, são ferramentas fortíssimas de desenvolvimento e promoção
dessa autonomia.
Como também me parece claro há que controlar o eventual
perigo que é diferente do risco, as crianças também “aprendem” a conhecer e a
lidar com o risco.
Talvez, devagarinho e com os perigos e riscos controlados,
valesse a pena levar os miúdos para a rua, mesmo que por pouco tempo e não
todos os dias.
É, pois, importante, volto a insistir, que todos os que
lidam com crianças, em particular, os que têm “peso” em matéria de orientação,
pediatras, professores, psicólogos, etc. assumam como “guide line” para a sua
intervenção a promoção do brincar.
Os mais novos vão gostar e faz-lhes bem.
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