Parece estar a desenhar-se um movimento de pressão e tomadas de posição no sentido de que, asseguradas condições também identificadas ao nível das questões de segurança de saúde, se proceda a partir do início de Março à abertura progressiva das escolas começando, naturalmente, pelos mais novos, creche, educação pré-escolar e 1.º e 2.º ano do 1º ciclo do ensino básico, 3.º e 4.º ano, posteriormente o 2º ciclo e 3º ciclo e, em Abril, os alunos do Secundário e Superior.
Creio que nesta altura e com a experiência e conhecimento,
nacional e internacional, já adquiridos, parece inquestionável que o impacto do
encerramento das escolas é fortíssimo nos alunos mais novos, ainda que como
sempre, modulados por variáveis de natureza sociodemográficas ou individuais, literacia
familiar ou uma condição de vulnerabilidade, por exemplo.
Assim, parece importante que, dentro de um quadro de
seguranças no que respeita à saúde pública este processo possa ser
desencadeado. Aliás, o Governo tem também demonstrado esta visão, começar pelas escolas, mas com muitas "reservas" quanto a datas. Compreende-se, está ainda “preso” ao facilitismo criado no Natal e ao atraso
no encerramento das escolas em Janeiro.
No entanto, e tal como tenho escrito, tanto como a importância
do retorno ao ensino presencial, inquieta-me a forma com serão acolhidos os
alunos neste novo retorno.
É bom recordar, por exemplo que os alunos que estão agora no
segundo ano, no ano lectivo passado, o seu primeiro ano de escola, onde tudo
começa em termos de aprendizagem escolar, literacia, educação matemática, educação
científica e expressões e actividade física, tiveram aulas até ao início de Março,
entraram em modo não presencial com os impactos e limitações reconhecidos, começaram o segundo ano e no início do 2º período voltam ao modo não presencial. É, para ser simpátcio, uma trajecto pouco amigável para o sucesso nas aprendizagens sendo que, como sempre, as desigualdades têm um impacto crítico.
Neste cenário e considerando todos anos de escolaridade,
mas, insisto, sobretudo nos primeiros por razões óbvias gostava de estar tranquilo
relativamente à forma como será gerido o retorno ao ensino presencial, não basta,
“sentá-los” como se voltassem de um intervalo. Tanto quando as datas,
eventualmente menos previsíveis a ver pelas afirmações do Presidente da República, seria desejável que, existissem orientações, admito que existam, no sentido
da avaliação de prováveis dificuldades, recordo a situação particular dos
alunos no segundo ano de escolaridade, da definição de apoios e recursos
dedicados a esta “recuperação”.
A proactividade, apesar da complexidade da situação, é mais
amigável da qualidade que a reactividade embora saibamos, temos o exemplo de
Março de 2020, que às vezes há que reagir e avançar. No entanto, temos já
experiência que deveria ajudar a regular o que actualmente vai acontecendo.
Creio que ainda estamos a tempo de apesar das dificuldades
podermos levar a generalidade das crianças e jovens a porto seguro, assim
saibamos e queiramos responder atempadamente e competentemente às suas
necessidades.
Ainda há poucos dias aqui referi a estranheza com umas
afirmações do Ministro numa entrevista, “Sabemos que necessariamente (esta
geração de alunos) vão ter mais problemas de alergologia daqui a 20 anos.
Porque vão ser muito mais obesos. Vamos ter problemas oncológicos,
respiratórios, cardiovasculares, mentais”.
Não Senhor Ministro, tal não irá certamente acontecer, muito
menos pelas razões que refere. Se fizer o seu trabalho, com maiores ou menores
dificuldades, como sempre e em todas as circunstâncias, escolas, professores,
directores, técnicos auxiliares, pais e alunos farão o que lhes compete.
Correrá sempre tudo bem? Não, estamos no universo da
educação escolar, num tempo difícil e numa sociedade complexa e desigual.
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