Tenho estado por aqui confinadamente dedicado à preparação de umas aulas sobre indisciplina em sala de aula, matéria que gosto muito de abordar talvez para expiar algum sentimento de culpa pelo currículo que, desculpem a imodéstia, consegui construir no básico e secundário. A indisciplina no superior, quando comecei, já era de outra natureza e por outras razões bem mais significativas, tal como as consequências.
Às tantas comecei a lembrar-me de como em múltiplos contactos e conversas com professores têm sido recorrentes as referências à burocracia que continua a inquinar o trabalho de toda a gente.
Já há algum tempo aqui escrevi como seria desejável que o
trabalho a desenvolver, os conteúdos envolvidos, os dispositivos em utilização,
a organização de tempos e rotinas, etc., tivessem como preocupação a
simplificação, professores, alunos e famílias ganhariam. Esta simplificação
deveria incluir a avaliação e registos. Seria positivo que, tanto quanto possível,
se aliviasse a pressão “grelhadora” a que habitualmente escolas e professores
estão sujeitos.
Não é por registar, muito, registar tudo, aliás, nunca se regista
tudo pelo que não vale a pena insistir, que o trabalho melhora e o desperdício é
grande.
Como é evidente, este apelo à simplificação não tem a ver
com menos rigor, qualidade, intencionalidade educativa ou não proporcionar
tempo de efectiva aprendizagem para todos. Antes pelo contrário, se
conseguirmos simplificar processos e recursos, alunos, professores e famílias
beneficiarão mais do esforço enorme que todos têm que realizar e estão a
realizar.
Sempre que falo desta questão recordo-me do Mestre João dos
Santos, quando dizia, cito de memória pelo privilégio de ainda o ter conhecido
e ouvido, que em educação o difícil é trabalhar de forma simples, é mais fácil
complicar, mas, obviamente, menos eficaz, menos produtivo e muito mais
desgastante.
Talvez valesse a pena tentarmos esta via de mais
simplificação. As circunstâncias já são suficientemente complicadas.
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