quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

ENSINO PRESENCIAL, ENSINO NÃO PRESENCIAL E O MESTRE DE FUSÍVEIS

 As referências e discussões sobre ensino presencial, ensino não presencial ou ensino à distância, têm sido constantes de há quase um ano para cá e por razões óbvias. Também aqui no Atenta Inquietude inúmeras vezes tenho abordado a questão.

A este propósito e porque ainda há pouco participei num debate sobre estas matérias lembrei-me de uma história que já aqui contei, a do Mestre Teixeira.

O Mestre Teixeira foi há muitos anos professor de uma escola que havia naquele tempo que se destinava mais a ensinar o saber-fazer do que o saber-saber. Chamavam-lhes escolas técnicas, umas mais dirigidas para a indústria, as industriais, outras mais dirigidas para os serviços, as comerciais.

O Mestre Teixeira era professor numa escola industrial e era especialista nas coisas da electricidade, sabia tudo sobre esse mundo e tinha, isso é que o fazia ser como era, uma paixão enorme por aquelas coisas. Algumas pessoas, o Mestre Teixeira era uma delas, gostam que toda a gente goste das coisas que os apaixonam e era a partir dessa paixão que ele se relacionava com os alunos.

Mas a grande virtude do Mestre Teixeira era a sua capacidade para entender os alunos, ler os alunos, como eu costumo dizer. Tinha uma capacidade notável de perceber o que se passavam com os adolescentes, o que os levava aos comportamentos ou às dificuldades que evidenciavam. Era quando ele falava qualquer coisa como "tens algum fusível a precisar de ser visto ou a queimar". Tinha então a sabedoria para perceber o que se passava e "arranjar" os fusíveis que não estavam em boas condições. Tal sabedoria e faziam dele um daqueles professores que nos marcam, ensinam o que são, mais do que o que sabem, mesmo quando sabem muito, como era o caso do Mestre Teixeira.

Por isso, toda a gente lhe chamava O Mestre de Fusíveis.

No tempo que vivemos, mais do que nunca, sentimos a falta dos Mestres de Fusíveis. Sentimos a falta da proximidade que permite “ler” os miúdos e partilhar com eles a paixão pelo conhecimento, perceber os “tropeços” da aprendizagem e estar presente, perceber a “mochila” que carregam e as ferramentas que lhes faltam.

Precisamos de estar na escola, próximos.

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