Partiu Eduardo Lourenço, um daqueles que, citando Camões, “por obras valerosas se vão da lei da morte libertando”. Um Homem que nos pensava e fazia pensar, há poucos.
Nos tempos que atravessamos, faz todo o sentido visitar e
reflectir sobre o seu pensamento. Recordo o título de uma das obras de Eduardo
Lourenço, “O Esplendor do Caos”, e das palavras iniciais de um dos
textos, “Enquanto dura, o que nós chamamos o caos evoca a ideia não apenas
de confusão e desordem dos elementos, mas de incapacidade do espírito para
compreender e, ainda menos, dominar um estado de coisas, do mundo, da
sociedade, da história, onde não se vislumbra a sombra de uma ordem”.
Quando cada vez com mais urgência parece necessário um
estabelecimento de um desígnio, de um entendimento mobilizador que congregue
esforços e projectos, mais se assiste ao despudorado calculismo decorrente de
interesses pessoais ou partidários. Quando parece urgente a elevação de padrões
éticos e de transparência na coisa pública, sempre aparece mais um episódio de
nível ainda inferior, quando já pensávamos ter batido no fundo.
Quando a situação dramática que aflige milhões de nós
exigiria que essa situação fosse a prioridade das prioridades, emerge um ruído
ensurdecedor sobre questões acessórias.
Os modelos de desenvolvimento social e económico hipotecados
aos deuses do mercado fomentam e produzem pobreza e exclusão.
O inquietante é que parecem longínquos os indicadores de
mudança, “não se vislumbra a sombra de uma ordem” como refere Eduardo Lourenço.
Sem comentários:
Enviar um comentário