Nos últimos dias e por razões que aqui não pertencem tenho recordado o meu Pai, um Homem bom. Nesta viagem pelas memórias acresce que no dia de ontem se contaram quarenta e cinco anos desde que partiu. Não foi há muito tempo, a unidade de medida do afecto e da saudade não tem um padrão, é a de cada um.
Partiu demasiado cedo, mas não partiu sem me mostrar o que
nunca viu, sem me ajudar a chegar aonde nunca foi.
Tanto que ficou por dizer e por viver.
Partiu numa altura em que acreditávamos que, finalmente,
tudo seria melhor, tudo seria possível, e tudo seria melhor e possível para
todos. Ainda recordo as suas palavras sempre que eu saía de casa naqueles tempos de
adolescência e de entrada na juventude em que nos sentíamos donos do mundo, “Pensa
por ti”. Não sei se pensei sempre bem, mas acho que tenho pensado sempre
por mim.
Havia de ter gostado de nos ver a fazer pela vida, eu e o
meu irmão. Havia de ter gostado de conhecer os netos e os bisnetos que tanto
certamente gostariam de o ter conhecido.
Havia de ser o porto de abrigo dos sobressaltos que também fazem
parte da vida da gente.
É verdade, tanto que ficou por dizer e viver.
Um dia destes vamos conversar todas as conversas que não
iniciámos e todas as conversas que não acabámos.
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