À excepção de algumas inovadoras situações e nos concelhos com anos lectivos semestralizados com aulas ainda amanhã e depois, as aulas do primeiro período no ensino básico e secundário terminaram. Como não podia deixar de ser, trata-se de mais um ano com características excepcionais que tem funcionado de acordo com a orientação do ME, fazer o possível.
Antes de se entrar mais a fundo
no espírito natalício também ele em modo “contido” nas festas, depois das
reuniões de avaliação realizadas em condições que têm merecido alguma reflexão,
sobretudo no que respeita à operacionalização e burocracia, a generalidade das
famílias vai dar atenção às notas. Não só às notas necessárias para a compra
dos presentes de Natal, estes são mais resilientese hão-de aparecer, as boas notas são muitas
vezes compensadas com presentes, mas, sobretudo, contribuem para comprar
futuros.
A avaliação deste primeiro
período, um processo sempre complexo, teve e terá ainda de considerar a situação
em que muitos alunos começaram as aulas em consequência do tempo de
confinamento e as implicações na aprendizagem e as condições de frequência e
participação nas aulas decorrentes de situações de isolamento verifiadas no contexto
da pandemia.
Ainda assim, felizmente, muitos
miúdos e adolescentes esperarão com serenidade, apenas com a ponta de ansiedade
criada pela expectativa de ver confirmado o bom andamento do primeiro período
ou semestre. Destes, uns poucos, terão mesmo o seu nome e nota inscritos num
quadro de honra ou mérito existente em algumas escolas. Receberão as
felicitações da família pelo trabalho desenvolvido e, muito provavelmente, até
terão essas felicitações e contentamento familiar sublinhadas com o reforço dos
presentes, merecem, trabalharam bem, toda a gente dirá. Estamos num tempo de
produtividade e incentivos.
Alguns outros miúdos esperam com
a ansiedade da dúvida, será que o trabalho que realizaram e a generosidade dos
“setôres” chegarão para a positiva, senão a tudo, pelo menos a quase tudo. É
que os pais também tinham prometido “aquela” prenda se as notas fossem
positivas, mesmo que não "boas", não esperam tanto.
Também existem alguns alunos que
já nem a ansiedade pelas notas conseguem sentir, mesmo no primeiro período,
sabem que vão ser más, o que não estranharão e as famílias, algumas, também
não. É hábito. Destes, uns assumirão um discurso e pose de indiferença,
precisam dessa pose e desse discurso para mascarar para fora o que o insucesso
dói para dentro. Ninguém com saúde se satisfaz com o insucesso. As famílias não
sabem que fazer e culpam a escola que as culpa a elas.
Alguns destes alunos receberão as
más notas do primeiro período como uma espécie de “cheque pré-datado” passado
pela escola, ou seja, estas serão também as notas do segundo e do terceiro
período. Esta baixa expectativa é um forte contributo para que se cumpra o
emitido no “cheque”, as más notas no futuro. Não tem que ser, não é o destino e
não estão condenados ao insucesso. Era bom ter consciência do processo e
recusar esse fatalismo.
Existe ainda um grupo mais
pequeno de alunos que, por razões que eu não consigo compreender, não têm
notas, são especiais, dizem, pelo que sendo alunos e trabalhando nas escolas
não vêem, como todos os outros colegas, traduzida numa nota a sua participação
na vida escolar. Será porque estando lá não participam, ou será que, apesar de
participar e não tendo o mesmo "rendimento" ou sendo avaliados da
mesma forma que os seus colegas, se entende, erradamente, que não se
"justifica" uma nota, curiosamente, em contextos escolares que se
afirmam "inclusivos". Talvez tenhamos ainda que caminhar no sentido
de melhorar culturas, modelos e dispositivos de avaliação que acomodem todos os
alunos.
Enfim, como em quase tudo na
nossa vida, as notas são, muitas vezes, determinantes.
Boas férias e Bom Natal.
Sem comentários:
Enviar um comentário