Como tanto gostamos de dizer, meteu-se o Natal e agora mete-se o Ano Novo.
Apesar das circunstâncias excepcionais que vivemos, os dias
que medeiam entre o Natal e o Ano Novo têm, do meu ponto de vista, um conjunto
de características muito particulares. Fico sempre com a sensação de que os percebemos
como não dias. Pode parecer uma ideia estranha, mas vou tentar explicar.
Logo depois do Natal, ainda a recuperar do espírito
natalício, entramos numa espécie de ressaca advinda da azáfama das prendas,
dadas, recebidas ou sonhadas e da culpa resultante dos excessos. Acresce para
muita gente o problema das trocas, ou porque já tinham o que receberam ou
porque, por várias razões, não serve o que receberam.
Para que se não saia dos espaços comerciais o ânimo irá recuperar-se,
se a pandemia o permitir é claro, entrando de imediato na época de saldos,
descontos, promoções ou outra qualquer designação apelativa a mais umas
compras. Trata-se do efeito terapêutico do mercado e do consumo.
Deste estado, passamos para os dias de aproximação ao Ano
Novo que, independentemente do que de menos bom possamos racionalmente esperar,
vivemos com a esperança de que seja mesmo novo e, sobretudo, Bom. Este ano,
mais do que nunca, queremos, precisamos, que o próximo seja melhor.
Iremos certamente trocar inúmeras mensagens e votos noutra
azáfama que aparenta assentar numa ideia mágica dos tempos de miúdo que nos
parece fazer acreditar em que se assim procedermos, o Ano Novo vai ser mesmo
Novo e, repito, Bom. De tanto falarmos nisso pode ser que ele se convença de
que terá de ser mesmo Bom.
É certo que de há uns tempos para cá, como devem ter dado
por isso, foi desaparecendo o Próspero, basta que seja Bom, ou até mesmo que
não seja pior do que o que passa. Já era bem bom, por assim dizer, mas este ano não chega, o ano que acaba foi mau, muito mau, para muita gente.
É também muito provável que nos últimos dias do próximo
Dezembro, o de 2021, e mesmo que como precisamos e desejamos ele tenha sido
melhor que 2020, estaremos com o mesmo sentimento a enunciar os mesmos
discursos apesar das promessas optimistas de que ... a coisa está a mudar.
A passagem deste ano como também não podia deixar de ser vai
ser muito diferente para muitos de nós, confinados, sem réveillons, sem aquela
alegria a que nos sentimos obrigados ou que genuinamente sentimos a cada noite de
31 de Dezembro para 1 de Janeiro.
O problema mais sério é que a 2 de Janeiro está aí o Ano
Novo que, para muita gente, vai continuar velho e para muita outra gente não
será Bom, longe disso.
Mas para um povo sereno e de brandos costumes como nós, esperemos
que haja saúde que é o principal e tanto que nos temos preocupado com a saúde. As vacinas darão certamente um grande contributo para a nossa saúde.
De resto, bom de resto … algum jeito se há-de dar.
Bom Ano. De forma mais prudente, o melhor possível.
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