Com alguma frequência é citada a afirmação atribuída a
Bismarck, “A política é a arte do possível”. Creio que o autor, quem quer que
seja, não conhecia o mundo da educação, em particular da educação escolar,
se o conhecesse teria certamente reconfigurado a frase para “A educação é a arte do
possível”.
Nunca como nos últimos tempos tal afirmação seria tão adequada.
Após o confinamento em Março e o encerramento das escolas e
até ao fim do ano lectivo, os professores, directores, técnicos e funcionários em
colaboração com outras estruturas ou entidades fizeram um gigantesco esforço no
sentido de atingir o impossível, colocar uma sala de aula na sala de estar de
cada aluno.
A verdade é que apesar desse brutal esforço muitos alunos
ficaram mais longe da escola, comprometeram-se aprendizagens, comprometeram-se
apoios a alunos com necessidades especiais.
Fez-se o possível com os recursos disponíveis e
insuficientes, equipamentos informáticos e acessibilidade à rede, por exemplo.
Quando se inicia o ano lectivo e se decide pela reabertura
das aulas, o próprio ME adopta como princípio orientador do trabalho das
escolas o “se possível” quando eram previsíveis várias “impossibilidades”, os prometidos
recursos informáticos tardaram e tardam em não chegar às escolas e aos alunos, os recursos humanos,
técnicos e auxiliares continuam insuficientes para as exigências, os docentes,
grupo com muita gente de risco, estão em falta em várias escolas, etc.
Mais uma vez os professores e as escolas desenvolveram e
desenvolvem um esforço enorme no sentido de tornar possível o impossível, que
tudo corra bem.
As condições de saúde pública agravaram-se e os possíveis
tornaram-se mais impossíveis, alunos em casa, alguns sem apoio (conheço casos),
professores com receio e em falta, são alguns exemplos.
No final da semana passada li numa peça do Público uma
avaliação destes primeiros meses de aulas por parte de directores escolares cuja apreciação, globalmente, era no sentido de que afinal correu
melhor do que diziam alguns. Mais uma vez, lá está, … fez-se o possível.
Nessa peça falava-se em particular da sempre complexa
questão da avaliação dos alunos, em particular dos que estiveram ou estão sem
aulas por razões de saúde. Sem surpresa e de novo a ideia é se possível não
prejudicar os alunos e tentar procedimentos nesse sentido.
A grande questão é que os possíveis, em educação, tendem quase
sempre a ser insuficientes, em particular para os alunos mais vulneráveis por
várias razões.
Nestas circunstâncias o possível é ainda mais curto,
precisamos de ir mais longe.
É neste contexto que se devem decidir as políticas públicas
em educação, mas não só, tentar tornar mais possíveis os impossíveis.
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