O ano que agora vai terminar terá sido para muitos de nós um dos mais estranhos, senão o mais estranho, que vivemos.
Sentimo-nos completamente atropelados por algo que começou
lá longe e certamente não chegaria à nossa beira e que, de repente, nos fechou
em casa experimentando circunstâncias e modos de vida absolutamente inesperados
e para os quais, dificilmente alguém se sentiria preparado.
Como sempre em situação complexas o impacto foi assimétrico,
quer na saúde, quer na vida profissional, quer na idade, quer nas áreas de
funcionamento das comunidades.
Muita gente passou, está a passar e irá continuar a passar
por enormes dificuldades. Os mais vulneráveis serão sempre mais atingidos.
No universo em que me movo, a educação, a situação a partir
de Março foi extraordinária. Algumas notas breves.
Com os alunos em casa, professores e escolas realizaram um esforço gigantesco, sempre de sublinhar e reconhecer, para tentar a tarefa impossível, trazer a sala
de aula para um cantinho dentro da casa dos alunos. Muitos alunos nem sequer
têm um cantinho, não têm ferramentas e equipamentos adequados para o acesso ao
E@D que foi estruturado, tal como muitos professores e escolas não estavam preparados para
tal, não seria sequer razoável esperar que estivessem. Apesar do esforço e empenho muitas crianças ficaram mais distantes da escola e,
sobretudo os mais novos, registaram compromissos nos seus trajectos de
aprendizagem. Poderão ser ultrapassados, mas importa que os apoios e recursos sejam adequados, mas o que vou conhecendo mostra dificuldades.
Percebemos ainda, para surpresa de alguns opinadores, como
os professores são imprescindíveis próximos dos alunos, sobretudo nos primeiros anos e dos mais vulneráveis, com necessidades especiais, por exemplo, que
passaram e passam ainda por sérias dificuldades apesar, mais uma vez, dos discursos
mágicos sobre a educação inclusiva.
Em circunstâncias de maior complexidade e quando, como é o
caso das escolas, as instituições têm níveis de autonomia ainda insuficientes, torna-se mais evidente o peso das lideranças em matéria de políticas públicas.
Sem qualquer desrespeito pessoal, o Ministro da Educação, não mais se
desconfinou e as intervenções mostraram sobretudo algo que não transmite
segurança e confiança, oscilando entre um discurso mágico sobre a realidade ou uma
orientação assente no “faça-se o possível”. É preciso mais, em particular
quando as situações são mais pesadas.
O início do ano lectivo, já em modelo presencial,
percebeu-se a opção, veio de novo mostrar a disparidade situações e
procedimentos que se verificaram nas escolas, quer em respostas educativas,
quer em resposta a questões no âmbito da saúde pública num contexto de receio
de docentes, pais, técnicos, funcionários e direcções. No entanto o balanço
parece ter justificado a opção pelo ensino presencial.
Continuaram a sentir-se dificuldades significativas em
matéria de docentes, de equipamentos, de aumento oportuno de técnicos e
funcionários, etc. Eu sei que não é fácil gerir sem falhas situações desta
natureza, mas também sei que a forma como são geridas, as decisões tomadas, quer
pela competência, quer pela forma como são comunicadas, a demonstração de uma percepção
clara da realidade, podem fazer a diferença.
Entretanto, foi anunciada a realização pelo IAVE e a pedido
do ME de um estudo com o objectivo de “perceber impactos da suspensão das aulas
sobre os conhecimentos de Matemática, Ciências e Leitura, envolvendo estudantes
do 3.º, 6.º e 9.º anos”, com o objectivo de “dar informação às escolas para que
possam ajudar os alunos a recuperar as matérias atrasadas.” Agora? Assim?
Voltarei a umas notas sobre este estudo
Em matéria de educação, mas não só, o ano de 2020 foi e será,
pois ainda se que se estende para 2021, um ano duríssimo. Esperemos, ainda que
com optimismo moderado, que do que vivemos, possamos aprender a fazer melhor e
para todos.
O meu optimismo é sustentado por natureza e pelo facto de
ter dois netos, um já na escolaridade obrigatória no sistema público e outro à
beira de começar.
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