domingo, 27 de dezembro de 2020

UM DIA COM VISTA PARA O FUTURO. QUAL FUTURO?

 

É o grande dia, o dia de começar a espreitar o futuro através de uma janela de esperança. Inicia-se hoje o longo e complexo processo de vacinação da população portuguesa, da parte que venha a aderir e da parte para a qual seja indicada.

Os efeitos devastadores dos últimos meses em múltiplas dimensões da nossa vida individual, da vida em comunidade, entre comunidades no sentido mais alargado, o problema é mundial, fazem-nos ansiar pela recuperação, pelo retornar a antes, por um regresso à normalidade perdida, seja isso o que for para cada um de nós. Será isso que muitos de nós começaremos a vislumbrar através dessa janela de esperança.

Este movimento é necessário, diria imprescindível, é uma imagem de futuro que nos reboca, nos mobiliza. É importante percebermos como será esse retorno, quando será esse retorno e o que importa ponderar para que se recupere.

De um ponto de vista mais individual e como escrevi acima, numa perspectiva de protecção e confiança é fundamental que criemos imagens de futuro que nos apoiem para lá chegar neste caminho que não é fácil e tem inúmeros riscos.

A grande questão será, creio, a que normalidade queremos voltar ou melhor, a que normalidades queremos voltar, o que queremos recuperar. Na verdade, existem múltiplas normalidades e talvez as circunstâncias excepcionais em que vivemos nos possibilitem e inspirem a repensar se algumas das “normalidades” que conhecemos seria desejável que se mantivessem.

Nesta perspectiva e ao contarmos com a alavanca financeira a que chamam “bazuka europeia” queremos recuperar modelos e “normalidades” que alimentam exclusão, pobreza, intolerância, atropela direitos, compromete o nosso futuro como habitantes do planeta, etc.? Se nada se repensar ou refizer, após a pandemia e à boleia da lenta recuperação financiada esta normalidade voltará, é uma normalidade resistente e se continuar a ser muito bem alimentada como tem sido, assim se manterá. Aliás, a pandemia acentuou de forma brutal as assimetrias e a vulnerabilidade de muitos grupos e pessoas.

Por outro lado, também ansiamos recuperar, regressar, a uma normalidade que se traduz na proximidade com os de que gostamos e voltam a estar à distância de um gesto, à normalidade dos alunos nas escolas, da gente na rua, nas lojas e empresas e a circular sem medo do “bicho” como dizem os meus netos. Os miúdos de diferentes idades tiveram saudades da escola, sim, os miúdos gostam da escola e dos professores, São bens de primeira necessidade. Os miúdos, adolescentes e jovens, todos nós, queremos regressar, recuperar, o estar com a família, com os amigos, de realizar todas as actividades que fazíamos e deixámos de o poder fazer, enfim, de regressar ao tudo que poderemos e vamos querer fazer. Este Natal apesar de alguma abertura mostrou isso mesmo.

Esta normalidade queremo-la de volta, queremos recuperá-la tão depressa quanto possível.

No entanto, deveríamos reflectir se queremos todas as normalidades de volta, se queremos recuperar tudo, ou entendermo-nos sobre que novas normalidades precisamos de definir.

Não depende só de nós, mas também depende de nós.

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