Sem estranheza, nada nestes tempos parece normal, também o
ensino secundário vai ter um final de ano atribulado.
Considerando a opção de não introduzir mudanças no
processo de candidatura ao ensino superior os exames nacionais do ensino
secundário teriam de acontecer o que, naturalmente, tem levantado um conjunto significativo de dúvidas e dificuldades. Algumas notas.
Se não se realizassem exames abrir-se-ia uma porta
larguíssima à "simpatia" de algumas escolas, fenómeno reconhecido e
investigado, que inflacionam a avaliação interna dos seus alunos de forma a,
por assim dizer, ajudá-los a dar um “saltinho” na média final. É sabido que o
“saltinho” pode ser decisivo para entrar, embora seja de pouco proveito para a
continuidade da carreira escolar como diversos estudos têm evidenciado.
Assim, havendo exames e dadas as circunstâncias teriam de
ser adiados, a primeira fase vai realizar-se entre 6 e 23 de Julho e a segunda
fase entre 1 e 7 de Setembro.
A existência dos exames justifica ainda a manutenção da realização
de aulas presenciais para estes alunos como também justifica que as aulas
presenciais só se realizem para as disciplinas sujeitas a exame por integrarem
os critérios de acesso aos diferentes cursos.
Ficámos então com aulas presenciais para preparação dos
exames para alguns alunos e cerca de 10% que não regressaram às aulas
provavelmente porque os pais entendem que com as “explicações” se preparam
melhor para os exames.
Tivemos ainda algumas dúvidas sobre que disciplinas teriam
aulas presenciais ou não como também se adensou o receio com a “generosidade” das
avaliações de algumas escolas, já conhecidas muitas delas, pois os exames
contarão apenas como prova de ingresso e não para o cálculo da nota final de
disciplina. O Ministro da Educação afirmou a precupação com a "simpatia" de algumas escolas a que os inspectores da Inspecção Geral da Educação responderam com a dificuldade de o fazer por falta de recursos.
Para os alunos que não frequentam as aulas presenciais, as escolas não estão obrigadas a disponibilizar ensino à distância nas disciplinas em que há aulas presenciais a decorrer.
Para os alunos que não frequentam as aulas presenciais, as escolas não estão obrigadas a disponibilizar ensino à distância nas disciplinas em que há aulas presenciais a decorrer.
Por outro lado, as escolas definiram a carga horária das
disciplinas com ensino presencial consoante as disponibilidades logísticas existindo
turmas em que foram leccionadas metade da carga horária da disciplina.
Neste contexto como e com que critérios de equidade será
feita a avaliação dos alunos, com carga horária total, parcial ou que não foram
às aulas presenciais e não tiveram ensino à distância? Será (mais) uma dificuldade
em todo este processo.
Não será, pois, estranho mais do que habitualmente acontece,
a corrida aos centros de explicações. Sendo habitual esta “corrida”, sem aulas
presenciais “normais” com uma alternativa com alguns constrangimentos como é o
“ensino à distância de emergência”, a procura desta ajuda será certamente bem
maior.
Se como também é reconhecido, a capacidade das famílias para
acederem a estes apoios “extra” constitui um factor de potencial desigualdade
entre os alunos, na situação actual com quebras de rendimento significativas em
muitos agregados familiares o risco de desigualdade é ainda mais preocupante.
Tenho a certeza de que as escolas e os professores no tempo
que têm e com os meios que possuem desenvolvem melhor trabalho possível de
preparação dos alunos, mas … é uma tarefa gigantesca.
É verdade e sublinho a decisão que a estrutura dos exames
será adaptada através da criação de grupos de respostas opcionais e de
respostas obrigatórias que cria a possibilidade de os alunos responderem às
questões para cuja resposta se sintam melhor preparados. Também foi anunciado nas
respostas opcionais são só vão contar para a classificação final os itens em que
os alunos tenham “melhor pontuação”.
Neste contexto, manutenção dos exames, parece uma medida
ajustada.
Dado tudo isto e riscos enormes de desigualdade de
oportunidades continuo a entender teria sido mais prudente adiar mais os exames
de modo a permitir com maior segurança aulas presenciais promotoras de mais
equidade. Não me parece que não fosse acomodável no ensino superior começar os
trabalhos do 1.º ano algum tempo depois. Como também creio que seria possível
adiar umas semanas o início das aulas no ensino secundário do próximo ano
lectivo para os alunos que neste momento estão no 9.º. 10.º e 11.º
No que respeita ao ensino superior não seria a primeira vez
que tal acontecia e não seria algo que comprometesse a carreira escolar dos
novos alunos e o funcionamento dos estabelecimentos de ensino superior.
Mas as decisões estão tomadas, não sabemos como tudo irá
evoluir, mas sei que escolas e professores fazem o esforço necessário para que
o difícil período que se vive seja tão bem-sucedido para todos quanto
possível.
A ver vamos.
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