Hoje, 3 de Maio, também se assinala o Dia Mundial da
Liberdade de Imprensa. Como não podia
deixar de ser, os tempos duros que vivemos também afectam significativamente a
imprensa nos seus diferentes suportes. Muitos títulos, sobretudo ao nível da
imprensa escrita regional, mas também em termos nacionais estão ameaçados de
sobrevivência, em risco de encerramento.
Por outro lado, mais do que nunca precisamos de uma imprensa
autónoma e independente que na luta pela verdade combata … também a imprensa e
todos os que trabalham e se alimentam de “fake news”, “factos alternativos” ou
da fabricação da “pós-verdade”. Há uns anos numa entrevista ao Público, Tom
Rosenstiel, especialista em comunicação, afirmava que se o jornalismo, (os
jornais), deixar de ser rentável e, como tal, corra o risco de desaparecimento,
as democracias poderão sofrer um "cataclismo cívico".
No entanto, mesmo não desaparecimento, sem liberdade de imprensa o risco de "cataclismo cívico" permanece. Precisamos que a imprensa cumpra o seu papel, seja proactiva e não só reactiva.
Se analisarmos o nosso quotidiano nesta matéria creio que parte
da imprensa é, frequentemente complacente com as lideranças económicas e
políticas, mas também frequentemente esta complacência assenta no seu próprio
alinhamento. Em qualquer dos casos um mau serviço prestado à cidadania, à
liberdade de imprensa.
Acho deplorável, por exemplo, que muitos profissionais da
imprensa aceitem a forma como algumas figuras reagem ao ser abordadas sobre
assuntos sobre os quais, por várias razões, não lhes interessa discorrer, mas
que são relevantes em nome da liberdade de imprensa. Surgem então as afirmações
patéticas, “não tenho nada a acrescentar”, “desculpem, não comento”, “não estou
aqui para falar dessas matérias,” etc., etc.
É grave a existência de uma comunicação social, boa parte
dela, passiva e resignada, que não confronte as figuras públicas com estes
comportamentos, não os denuncie, e que acorram solícitos quando essas figuras
entendem que têm algo a dizer, frequentemente irrelevante. Esta subserviência interessará
a alguns que também têm as suas agendas. Às vezes são recompensados.
Recordo que em 2017 o Sindicato dos Jornalistas apelou a que
a classe "boicote" as conferências de imprensa ou declarações em que
não sejam permitidas questões. É de recordar que no Congresso dos Jornalistas
realizado em Janeiro de 2019 foi aprovada por unanimidade uma decisão no mesmo
sentido, as iniciativas com a proibição de perguntas não seriam noticiadas.
Como é evidente esta decisão não teve qualquer consequência
e recorrentemente assistimos a situações deploráveis de desrespeito pelo
direito à informação.
Levada a sério e posta em prática poderia ser um forte
contributo para combater o modo como muitas lideranças entendem o papel da
imprensa, serve para divulgar apenas a mensagem que lhes interessa mostrando-se
indisponíveis para responder a questões. A imprensa é apenas um veículo
publicitário dos seus produtos ou “verdades”.
Para além desta atitude seria ainda desejável que quando
colocam questões, os jornalistas façam as perguntas adequadas e não uma
encenação de diálogo que mais não é que um monólogo a dois, ou seja,
independentemente das perguntas, o inquirido fala do que quer sem que isso lhe
seja cobrado. É importante o movimento de “fact checking” que tem vindo a ser
estruturada em alguns títulos ou grupos de comunicação, mas é preciso mais.
Também é importante que no âmbito de uma cidadania mais
responsável, e, portanto, mais informada, tenhamos consciência de que a
existência de uma imprensa com liberdade e que cada vez mais está em suportes
digitais tem custos, a dependência económica para a sobrevivência não é
amigável para a independência. Neste contexto, também nos compete contribuir,
pagando o acesso a conteúdos e, assim, suportar parte dos custos de uma imprensa
com maior liberdade.
Sei que não será fácil, todavia também tenho a convicção de que seria uma forma de proteger a imprensa e o seu insubstituível papel como um dos pilares de sociedades abertas e democráticas.
Sei que não será fácil, todavia também tenho a convicção de que seria uma forma de proteger a imprensa e o seu insubstituível papel como um dos pilares de sociedades abertas e democráticas.
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