quarta-feira, 6 de maio de 2020

O REGRESSO ÀS AULAS NO ENSINO SECUNDÁRIO


São já conhecidas as orientações para o decidido regresso às aulas presenciais dos alunos do ensino secundário do 11º e 12º ano. Este regresso, já há tempo anunciado, está obviamente subordinado à questão dos exames nacionais e do seu impacto no acesso ao ensino superior. Algumas notas.
Sendo claro que nesta altura não seria opção a alteração do modelo de acesso ao ensino superior, a não realização de exames não poderia ser aceitável. Países que o fizeram não têm um modelo de acesso ao superior com as características do nosso.
Não se realizando os exames abrir-se-ia uma porta larguíssima à "simpatia" de algumas escolas, fenómeno reconhecido e investigado, que inflacionam a avaliação interna dos seus alunos de forma a, por assim dizer, ajudá-los a dar um “saltinho” na média final. É sabido que o “saltinho” pode ser decisivo para entrar, embora seja de pouco proveito para a continuidade da carreira escolar como diversos estudos têm evidenciado.
Assim, havendo exames e dadas as circunstâncias teriam de ser adiados, a primeira fase realiza-se entre 6 e 23 de Julho e a segunda fase entre 1 e 7 de Setembro.
A existência dos exames justifica assim a manutenção da realização de aulas presenciais para estes alunos se a evolução da situação na saúde pública o permitir. Como também justifica que as aulas presenciais só se realizarão para as disciplinas sujeitas a exame por integrarem os critérios de acesso aos diferentes cursos. E informou ainda a afirmação do Primeiro-ministro de que as aulas presenciais são importantes mesmo que possam ser apenas de alguns dias sobretudo para tirar dúvidas
O repetido discurso de prudência e controlo dos riscos para professores, alunos e funcionários e as orientações agora conhecidas não parecem suficiente para tranquilizar os envolvidos o que na situação que vivemos se compreende como também não tranquiliza as exigências logísticas para montar o dispositivo, quer de eventuais aulas presenciais, quer dos próprios exames. As necessidades de professores face ao desdobramento de turmas e ao impedimento de alguns docentes por factores de risco, por exemplo, criarão dificuldades significativas.
Por outro lado, as orientações contêm duas referências que me parecem curiosas. O primeiro é o carácter não obrigatório da assistência às aulas que não parece compatível com a escolaridade obrigatoriedade até porque deixará de existir ensino à distância simultaneamente. A outra questão prende-se com o eventual encurtamento da carga horária em 50% se as circunstâncias o obrigarem o que, mais uma vez, é um potencial foco de desigualdade, mais um. Importa ainda considerar a situação de alunos com necessidades especiais.
No entanto, o cenário que se desenha coloca uma outra questão bastante importante do meu ponto de vista. Se a situação continuar a evoluir positivamente, como desejamos, ao permitir a realização de aulas presenciais, por um período maior ou menor, também permitirá, mais do que habitualmente acontece, a corrida aos centros de explicações. Sendo habitual esta “corrida”, sem aulas presenciais “normais” com uma alternativa com alguns constrangimentos como é o “ensino à distância de emergência”, a procura desta ajuda será certamente bem maior. Aliás, na minha a zona já assisto ao movimento de adolescentes, de máscara registo, a entrar em casa de “explicadores”.
Se como também é reconhecido, a capacidade das famílias para acederem a estes apoios “extra” constitui um factor de potencial desigualdade entre os alunos, na situação actual com quebras de rendimento significativas em muitos agregados familiares o risco de desigualdade é ainda mais preocupante.
Tenho a certeza de que as escolas e os professores no tempo que terão e com os meios que possuem desenvolverão o melhor trabalho possível de preparação dos alunos, mas … é uma tarefa gigantesca.
É verdade e sublinho que foi divulgada a decisão de que a estrutura dos exames nacionais será adaptada através da criação de grupos de respostas opcionais e de respostas obrigatórias que cria a possibilidade de os alunos responderem às questões para cuja resposta se sintam melhor preparados. Neste contexto, manutenção dos exames, parece uma medida ajustada.
Dado tudo isto e como já tenho defendido, considerando sempre que a não realização de exames não seria opção, julgo que seria mais prudente adiar mais os exames de modo a permitir com maior segurança aulas presenciais promotoras de mais equidade. Não me parece que não fosse acomodável pelo ensino superior começar os trabalhos do 1.º ano algum tempo depois. Como também creio que seria possível adiar umas semanas o início das aulas no ensino secundário do próximo ano lectivo para os alunos que neste momento estão no 9.º. 10.º e 11.º
No que respeita ao ensino superior não seria a primeira vez que tal acontecia e não seria algo que comprometesse a carreira escolar dos novos alunos e o funcionamento dos estabelecimentos de ensino superior.
Mas a decisão está tomada, ainda não sabemos como tudo irá evoluir, mas sei que escolas e professores farão o esforço necessário para que o difícil período que se avizinha seja tão bem-sucedido para todos quanto possível.
A ver vamos.

Sem comentários: