Ontem, a propósito da
possibilidade admitida pelo Ministro da Educação de que no próximo ano se
recorra a um modelo que envolva aulas presenciais e aulas à distância, apesar
de boas práticas conhecidas, afirmei, "o que com enorme esforço e motivação foi
estruturado no ensino à distância (E@D) foi uma resposta de emergência que
procurou substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não
é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de
escolaridade e em particular no caso de alunos com necessidades especiais".
A manutenção de aulas não
presenciais solicita uma séria reflexão sobre o que deverão ser, sobretudo nos
primeiros anos de escolaridade e para alunos com necessidades especiais e o
tempo não é muito.
O Expresso desta semana elucida
de forma impressiva este cenário através das dificuldades e retrocessos no processo
educativo do Afonso, uma criança com doze anos referida como tendo deficiência cognitiva
e das também significativas dificuldades sentidas pela família sem os apoios
adequados.
De facto vivemos tempos
estranhos, vemo-nos a falar de educação inclusiva num cenário de “ensino à
distância” e com os alunos confinados em casa. Para muitos alunos e por
diferentes razões tem mesmo aumentado a sua distância para a escola o que,
naturalmente, terá efeitos negativos, quer no progresso em aprendizagem quer
numa perspectiva de educação inclusiva. A situação do Afonso é um exemplo.
Não esqueço que mesmo em tempos
“normais” também temos constrangimentos e insucessos, mas, ainda assim, temos
uma variável muito importante, proximidade.
O ME divulgou em Abril “Orientações
para o trabalho das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva na
modalidade E@D”.
Como disse na altura, sendo
importante que se conheçam orientações da tutela, o que foi divulgado as “orientações”
reflectiam fundamentalmente as competências e funções das EMAEI o que no quadro
da resposta que temos tem uma enorme dificuldade de operacionalização.
Neste contexto parece-me mais
pertinente definir duas grandes linhas de trabalho mais pertinente.
A primeira seria a colaboração
com os docentes para o trabalho a desenvolver neste contexto particular em que
a planificação “existente” não tem obviamente condições para funcionar.
Questões como que objectivos a manter ou redefinir, que actividades e com que
recursos a desenvolver em casa, que duração, que rotinas de trabalho, que apoio
solicitam pais ou de irmãos, etc., são alguns dos exemplos em que o que está
definido nesta imensidade de RTP/PEI/PIT poderá necessitar de ser
reconfigurado.
Uma segunda linha envolve o apoio
aos pais. No entanto, creio que tanto ou mais do que criar formas de apoio aos
pais no sentido de serem “professores” ou “técnicos” dos seus filhos, ou seja,
o apoio dos pais ao “trabalho” dos filhos no “ensino à distância” julgo que
precisamos de apoiar os pais enquanto pais num quotidiano altamente exigente em
matéria de resistência física e psicológica. São grandes os riscos de cansaço,
impotência desânimo, culpabilização, etc. para mais dentro de um cenário de
isolamento. Esta questão quanto a mim é crítica.
A situação do Afonso e da sua
família retratado no trabalho do Expresso é elucidativo.
Como na altura afirmei e não
querendo ser polémico ou provocador, não é de todo a intenção, um contacto
regular próximo e acessível e com alguma disponibilidade para “ouvir” será
talvez mais importante que o cumprimento rigoroso dos RTP/PEI/PIT.
No entanto e como é evidente cada
situação sugerirá a melhor abordagem.
É muito importante que nestas
circunstâncias verdadeiramente excepcionais o trabalho das EMAEI e de todas a
escolas/agrupamentos e de professores e técnicos corra o melhor possível.
Mas a continuidade, ainda que parcial, do ensino à distância é uma inquietação, soa a inclusão à distância, ou seja, educação e inclusão mais distantes para muitos alunos.
Mas a continuidade, ainda que parcial, do ensino à distância é uma inquietação, soa a inclusão à distância, ou seja, educação e inclusão mais distantes para muitos alunos.
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