sábado, 23 de maio de 2020

EDUCAÇÃO INCLUSIVA À DISTÂNCIA

Ontem, a propósito da possibilidade admitida pelo Ministro da Educação de que no próximo ano se recorra a um modelo que envolva aulas presenciais e aulas à distância, apesar de boas práticas conhecidas, afirmei, "o que com enorme esforço e motivação foi estruturado no ensino à distância (E@D) foi uma resposta de emergência que procurou substituir e minimizar o impacto do encerramento das escolas, mas não é uma alternativa, dificilmente o será sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e em particular no caso de alunos com necessidades especiais".
A manutenção de aulas não presenciais solicita uma séria reflexão sobre o que deverão ser, sobretudo nos primeiros anos de escolaridade e para alunos com necessidades especiais e o tempo não é muito.
O Expresso desta semana elucida de forma impressiva este cenário através das dificuldades e retrocessos no processo educativo do Afonso, uma criança com doze anos referida como tendo deficiência cognitiva e das também significativas dificuldades sentidas pela família sem os apoios adequados.
De facto vivemos tempos estranhos, vemo-nos a falar de educação inclusiva num cenário de “ensino à distância” e com os alunos confinados em casa. Para muitos alunos e por diferentes razões tem mesmo aumentado a sua distância para a escola o que, naturalmente, terá efeitos negativos, quer no progresso em aprendizagem quer numa perspectiva de educação inclusiva. A situação do Afonso é um exemplo.
Não esqueço que mesmo em tempos “normais” também temos constrangimentos e insucessos, mas, ainda assim, temos uma variável muito importante, proximidade.
O ME divulgou em Abril “Orientações para o trabalho das Equipas Multidisciplinares de Apoio à Educação Inclusiva na modalidade E@D”.
Como disse na altura, sendo importante que se conheçam orientações da tutela, o que foi divulgado as “orientações” reflectiam fundamentalmente as competências e funções das EMAEI o que no quadro da resposta que temos tem uma enorme dificuldade de operacionalização.
Neste contexto parece-me mais pertinente definir duas grandes linhas de trabalho mais pertinente.
A primeira seria a colaboração com os docentes para o trabalho a desenvolver neste contexto particular em que a planificação “existente” não tem obviamente condições para funcionar. Questões como que objectivos a manter ou redefinir, que actividades e com que recursos a desenvolver em casa, que duração, que rotinas de trabalho, que apoio solicitam pais ou de irmãos, etc., são alguns dos exemplos em que o que está definido nesta imensidade de RTP/PEI/PIT poderá necessitar de ser reconfigurado.
Uma segunda linha envolve o apoio aos pais. No entanto, creio que tanto ou mais do que criar formas de apoio aos pais no sentido de serem “professores” ou “técnicos” dos seus filhos, ou seja, o apoio dos pais ao “trabalho” dos filhos no “ensino à distância” julgo que precisamos de apoiar os pais enquanto pais num quotidiano altamente exigente em matéria de resistência física e psicológica. São grandes os riscos de cansaço, impotência desânimo, culpabilização, etc. para mais dentro de um cenário de isolamento. Esta questão quanto a mim é crítica.
A situação do Afonso e da sua família retratado no trabalho do Expresso é elucidativo.
Como na altura afirmei e não querendo ser polémico ou provocador, não é de todo a intenção, um contacto regular próximo e acessível e com alguma disponibilidade para “ouvir” será talvez mais importante que o cumprimento rigoroso dos RTP/PEI/PIT.
No entanto e como é evidente cada situação sugerirá a melhor abordagem.
É muito importante que nestas circunstâncias verdadeiramente excepcionais o trabalho das EMAEI e de todas a escolas/agrupamentos e de professores e técnicos corra o melhor possível.
Mas a continuidade, ainda que parcial, do ensino à distância é uma inquietação, soa a inclusão à distância, ou seja, educação e inclusão mais distantes para muitos alunos.

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