Na imprensa encontram-se referências a dados relativos a 2018
do estudo Health Behaviour in School-aged Children, da responsabilidade da OMS,
realizado de quatro em quatro anos e coordenado em Portugal pela excelente
equipa da Professora Margarida Gaspar de Matos, Aventura Social. Será de
leitura obrigatória para compreensão do universo dos adolescentes e jovens
portugueses.
Uma nota sobre a evolução dos resultados de dimensão avaliada,
“gostar muito da escola”, que merece séria reflexão dada a consistência e
robustez do trabalho.
Em 1998, início deste estudo, 29% dos alunos com 15 anos
respondiam “gostar muito da escola” o que nos colocava em 2º lugar entre 28
países. A partir 1998 a percentagem foi sempre baixando e em 2018 apenas 9.5% afirmam
“gostar muito da escola”.
No estudo de 2018 já com 45 países envolvidos a posição de
Portugal era 38º o que mostra a acentuada descida do “gostar muito da escola”.
Encontrar uma explicação sólida para estes dados é uma tarefa
complexa. No entanto, julgo que numa abordagem de natureza mais qualitativa
talvez fosse interessante ouvir, escutar, os alunos e o seu discurso sobre a
escola.
Não tenho um entendimento idealizado ou romântico do
“diálogo” e do “ouvir os alunos”, mas creio que importará, de facto, ouvir os
alunos, todos os alunos, com real interesse no seu olhar e ideias sobre a sua
vida escolar. Também sei que a voz de muitos alunos nas salas de aula são vozes
perturbadoras e, também, que frequentemente são sinais de outros
"mal-estares" e problemáticas, familiares, por exemplo.
Apesar dos sobressaltos e dificuldades próprias dos
processos educativos e da diversidade de contextos, o sucesso e tranquilidade
dos processos de ensinar e aprender assentam em três dimensões fundamentais, a
qualidade do ensinar, o conhecimento sobre o aprender e a relação entre quem
ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a grande maioria dos professores
estará equipada relativamente ao processo de ensinar e de aprender, mas a grande
questão é que a nossa escola, de uma forma geral, não facilita a relação.
O “gostar da escola” é construído na relação com a escola, certamente
com os intervalos da escola, sempre gostamos dos intervalos, mas, necessariamente,
na relação com o espaço sala de aula. Também sabemos que a relação que envolve
pessoas, mais pequenas ou mais crescidas, se alimenta pela comunicação. E é
justamente a questão da comunicação que poderá ajudar a perceber a forma como
os alunos percebem a escola, a sala de aula.
Também sabemos que a comunicação em sala de aula é uma
tarefa difícil e com variáveis que a influenciam. Como exemplos destas
variáveis temos, entre outras, a organização dos tempos lectivos, a natureza e
extensão dos conteúdos curriculares das diferentes e muitas disciplinas, a
crescente pressão para resultados tangíveis, o número de alunos por turmas em
algumas escolas e agrupamentos e do número de turmas leccionado por muitos
professores, um ensino demasiado assente no manual, a burocracia esmagadora,
etc. para além, naturalmente, das concepções de alguns professores sobre o funcionamento
da sala de aula.
Os professores, muitos professores, sentem-se
"escravos" do programa que deverá ser dado, sobretudo nos anos de
exame e no ensino secundário e do pouco tempo disponível para construção da
relação que na verdade se torna muito difícil.
Muitas vezes digo que os professores "falam" para
o programa, para o explicar, e os alunos "falam" para o programa para
o aprender. Não falam entre si sendo que, além disso, existe um grupo
significativo de alunos que, por diversas razões como dificuldades ou
desmotivação ou associadas a variáveis de contexto, não conseguem
"falar" com o programa. Para estes, os professores vêem-se obrigados
a falar, sobretudo para controlar os seus (maus) comportamentos e a dificuldade
passa a ser clá-los..
Também por estas razões, continuo a entender como necessária
uma mudança mais significativa na organização dos tempos da escola, da gestão
mais integrada e diferenciada dos conteúdos curriculares e metodologias que
tornassem mais fácil podermos ouvir os alunos dizer, "a gente tem bons
professores porque explicam bem e falam com a gente".
Esta ideia tem nada de romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação constrói-se com a relação que se alimenta da comunicação. É assim que funcionam os bons professores que temos e cujos alunos certamente gostarão mais da escola.
Esta ideia tem nada de romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação constrói-se com a relação que se alimenta da comunicação. É assim que funcionam os bons professores que temos e cujos alunos certamente gostarão mais da escola.
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