O calendário das consciências determina que o dia 25 de Maio
seja o Dia Internacional das Criança Desaparecidas. Umas notas a acrescentar às
discretas referências divulgadas.
Ao que parece e
felizmente estão a registar-se em Portugal menos casos de crianças e
adolescentes desaparecidos. No entanto, e em termos mais globais a tragédia que
envolve o desaparecimento de crianças no âmbito da crise dos refugiados assume
proporções alarmantes e que são uma acusação fortíssima à mediocridade das lideranças
mundiais.
A maioria das situações de desaparecimento de crianças em
Portugal tem um final positivo, o desaparecimento é temporário e uma reacção a
incidentes pessoais ou a resultados escolares.
Lamentavelmente, nem sempre os processos decorrem assim, recordemos as
tragédias mais mediatizadas que envolveram o Rui Pedro desaparecido há mais de
20 anos em Lousada no norte de Portugal e a Maddie McCann em 2007 no Algarve,
dos quais nada se sabe sobre o que lhes terá acontecido.
De há uns anos para cá tem sido feito um esforço nacional e
internacional no sentido de aumentar a eficácia na abordagem a situações desta
natureza bem como dedicar maior atenção aos factores de risco de que a título
de exemplo se citam as redes sociais, que não podendo, obviamente, ser
diabolizadas, apresentam alguns riscos que não devem ser negligenciados.
Merece ainda registo o aumento significativo de crianças
desaparecidas através do rapto parental em contexto de separações familiares
com algo grau de litígio e que, evidentemente, implicam enorme sofrimento para
todos os envolvidos, em particular para os mais vulneráveis, as crianças.
Situações como as do Rui Pedro ou da Maddie McCann são
absolutamente devastadoras numa família. Nós, pais, não estamos
"programados" para sobreviver aos nossos filhos, é quase
"contra-natura". Se a este cenário acresce a ausência física de um
corpo que, por um lado, testemunhe a tragédia da morte, mas, simultaneamente,
permita o desenvolvimento de um processo de luto, a elaboração da perda como
referem os especialistas, que, tanto quanto possível, sustente alguma reparação
e equilíbrio psicológico e afectivo na vida familiar, a situação é de uma
violência inimaginável.
No entanto, sem minimizar a carga
dramática do desaparecimento, creio que é também muito importante não esquecer a existência de
muitas crianças que estão desaparecidas, mas que, por estranho que possa
parecer, estão à vista. São situações com contornos menos trágicos e óbvios que
por desatenção passam mais despercebidas.
Na verdade, existem muitíssimas crianças e jovens que vivem
à beira de pais e professores, de nós, e passam completamente despercebidas,
são as que designo por crianças transparentes, olhamos para elas, através
delas, como se não existissem. As razões são muitas e as mais vulneráveis
tornam-se mais transparentes. Não estando desaparecidas, estão abandonadas.
Algumas delas não possuem ferramentas interiores para lidar com tal abandono e
desaparecem, mantendo-se à nossa vista, no primeiro buraco que a vida lhes
proporcionar, um ecrã, outros companheiros tão abandonados quanto eles, o
consumo de algo que lhes faça companhia ou a adrenalina de quem nada tem para
perder.
Nos tempos que vivemos e como tem sido referido regularmente,
a manutenção das crianças em casa e com menor proximidade dos serviços de
protecção e dos seus olhos, professores e auxiliares, o risco de aumento de
crianças “desaparecidas” estando à vista é real.
Em boa parte das situações e por diferentes razões por estes
ninguém procura.
E alguns, por vezes, também se perdem de vez.
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