A permanência em casa de muitas centenas de milhar de alunos
bem como de muitos pais tem criado situações extremamente complexas em muitos
agregados familiares.
Não existem contextos familiares iguais, as dimensões que os
diferenciam são muitas e conciliar todas as solicitações, trabalho ou
teletrabalho, apoio às actividades escolares de que, sobretudo
os mais novos, não prescindem, tudo o que educação familiar exige, rotinas do
funcionamento em casa, etc., constitui uma enorme dificuldade e gera situações
complexas.
O mercado, essa entidade mítica e sempre atenta na criação e
promoção de necessidades ou na criação de respostas a questões ou necessidades emergentes vem
dar um contributo que, como sempre, terá um preço que, também como sempre, nem
todos podem ou, por diferentes razões, não querem pagar.
Face ao cenário de dificuldades referido acima, nos últimos meses foram criados, agora também em Portugal,
serviços de babysitting virtual. O apoio de baby sitters em Portugal está
disponível para crianças a partir dos três anos e assenta em períodos de uma
hora de apoio a uma ou duas crianças. Durante a sessão desenvolvem-se
actividades adequadas às idades das crianças assistentes.
Camões afirmava que “todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades” e nós sabemos que assim é e assim será, mudança
e novas qualidades, melhores ou piores, são o caminho.
No entanto, creio que ninguém antecipava a mudança e as
novas qualidades que estamos a conhecer.
De repente, para crianças, adolescentes e jovens e para
muitos de nós, mais velhos, o mundo ficou no ecrã. A escola, a informação, o conhecimento chegam pelo ecrã, a
família e os amigos chegam pelo ecrã, a ocupação do tempo confinado em casa
chega pelo ecrã. Neste contexto, também chega pelo ecrã o babysitting virtual. Mais
uma nova qualidade na mudança do mundo. E os riscos, de diferente natureza, para
que tantos alertávamos e alertamos da sobreexposição aos ecrãs? Sim, claro que existem. E alternativas? Teremos que condescender, são tempos excepcionais.
Estas novas qualidades no mundo da educação escolar e familiar
talvez até sejam mesmo só o início. Talvez as novas qualidades nos tragam mesmo um
qualquer dispositivo de natureza robótica que nos espaços escolares desempenhe o papel de professor e no contexto familiar desempenhe o papel de pais e
encarregados de educação.
Tal perspectiva atrairá uns quantos, os que olham para os professores
como “entregadores de conteúdos”, os alunos “como dispositivos de aprendizagem”
e a avaliação como medida e também, naturalmente realizada online. Também poderá
atrair alguns pais “ausentes” por razões que se prendem com a sua visão e
projecto de vida nos quais algum “do preço (tempo) a pagar por ter filhos” pode
ser assumido por uma máquina.
No entanto, é minha convicção e profundo desejo que não nos
demitamos de uma palavra exigente sobre as “novas qualidades” que o mundo irá tomar, também no universo da educação familiar e escolar.
A educação escolar e a educação familiar não cabem num ecrã ou num dispositivo
tecnológico por mais sofisticado que seja, embora o ecrã e os dispositivos tecnológicos
caibam na educação escolar e na educação familiar e é importante e necessário que assim seja.
Pais com tempo, disponibilidade e com apoios, professores
competentes e com recursos adequados, são bens de primeira necessidade imprescindíveis
na vida de todas as crianças, adolescentes e jovens, de todas as crianças, em particular das mais vulneráveis. E importa que estejam ao alcance do
gesto, da relação, da empatia e da emoção, do olhar para dentro deles.
Este será sempre, espero eu, o “novo normal”.
Voltando a Camões, não sou do Restelo e ainda não sou assim tão Velho, é mesmo só da atenta inquietude.
Voltando a Camões, não sou do Restelo e ainda não sou assim tão Velho, é mesmo só da atenta inquietude.
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