A imprensa divulga que a Escola
Básica e Secundária de Carcavelos decidiu a não utilização dos manuais
escolares como material obrigatório. A medida envolve os alunos do 5º ao 11º
ano.
Jugo importante sublinhar esta
decisão que sei não ter sido fácil. O grupo liderado pelo Professor Adelino
Calado trabalhou com professores, pais e alunos no sentido de contrariar uma
cultura de excessiva manualização ainda presente no nosso sistema educativo
apesar de outras experiências muito positivas no sentido minimizar a sua
importância. Também não foi fácil convencer o ME a trocar os vouchers
destinados ao fornecimento dos manuais gratuitos por apoio para aquisição de
tablets, a ferramenta de trabalho de todos os alunos. Aliás, a questão ainda não
está totalmente resolvida o que mostra o que está por fazer em matéria de
autonomia das escolas.
Como regularmente aqui tenho
afirmado esta excessiva “manualização” tem óbvias implicações
didáctico-pedagógicas e, naturalmente, económicas pelo peso nos orçamentos
familiares.
Se considerarmos duas recentes e
importantes alterações no sistema educativo, o novo quadro em matéria de
currículo, o DL 55/2018, e a perspectiva de flexibilidade que o informa e
actual legislação em matéria de educação inclusiva, o DL 54/2018, percebe-se
que um peso excessivo dos manuais não é coerente com flexibilidade e autonomia e muito menos com diversidade e diferenciação pedagógica. É minha convicção
que esta questão se associa a algumas das dificuldades e sobressaltos que se vão
conhecendo neste período de ajustamento e mudança que, como sabemos, não
acontece por decreto.
Apesar de como disse se conhecerem
múltiplas experiências bem-sucedidas em muitas salas de aula, dada a natureza
da estrutura e conteúdos curriculares, corre-se o risco de substituir a
“ensinagem”, o acto de ensinar, pela “manualização” ou “cadernização” do
trabalho dos alunos, ou seja, a acção do professor será, sobretudo, orientar o
preenchimento dos diferentes dispositivos que os alunos carregam nas mochilas.
Esta abordagem é, claramente, pouco
amigável á resposta à diversidade, muitos alunos não “cabem” no manual e nos
seus cadernos de actividades.
É verdade que a minimização da
dependência dos manuais envolve um conjunto de variáveis que devem ser
consideradas.
Passará por uma verdadeira gestão
e organização diferenciadas em matéria curricular que torne mais amigável uma
gestão uma reorganização e flexibilização curricular que, por sua vez, permita
a alunos e professores um trabalho de pesquisa e construção de conhecimentos
com base noutras fontes potenciando, por exemplo, a acessibilidade que as novas
tecnologias oferecem como, aliás, é o trabalho desenvolvido na Secundária de
Carcavelos.
Passará pelo ajustamento no
número de alunos por turma de modo a permitir melhores níveis de diferenciação
pedagógica e, assim, acomodar outros suportes ao processo de ensino e
aprendizagem.
Passará ainda por maior autonomia
de escolas e professores e recursos que acomodem dispositivos de apoio,
tutorias por exemplo, que diversifiquem e diferenciam as formas e materiais de
trabalho bem como respondam mais eficazmente à diversidade entre os alunos. A
Secundária de Carcavelos tem um trajecto que não tem sido fácil afirmação da
sua autonomia na construção do seu projecto educativo e de funcionamento.
Creio que seria importante
caminharmos no sentido aqui apontado de atenuar a fórmula instalada que de
forma simplista se pode enunciar, o manual formata operacionalmente o
currículo, o professor ensina com base no manual o que o aluno aprende através
do manual que o pai acha muito importante porque tem tudo o que professor
ensina.
É possível caminhar numa
perspectiva de “desmanualização” do nosso trabalho escolar, as experiências em
diferentes escolas e agrupamentos, da rede pública e privada que se vão
conhecendo sustentam e reforçam a sua possibilidade.
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