domingo, 30 de dezembro de 2018

OS RESULTADOS A MATEMÁTICA. SERÁ DESTINO?


Lê-se no Público que foi publicado sexta-feira o despacho que cria o Grupo de Trabalho anunciado em Março com o objectivo vai estudar o “fenómeno do insucesso” a Matemática no ensino básico e secundário e produzir um conjunto de recomendações no sentido de melhorar o ensino, aprendizagem e avaliação da Matemática.
O trabalho começará por analisar a evolução dos resultados a Matemática nas duas últimas décadas, o registo das taxas de sucesso, das taxas de recuperação, dos programas da disciplina, da eficácia de medidas de apoio e das metodologias de ensino, entre outras dimensões. Pretende-se aferir da eficácia e eficiência dos diferentes planos e medidas dirigidas à melhoria das aprendizagens e à promoção do sucesso escolar adaptados nos últimos anos. O Grupo produzirá um relatório que será colocado em consulta pública.
Recorde-se que dois grupos de trabalho criados em 2016 direccionados para o básico e para o secundário consideraram existirem “inúmeros constrangimentos” ao nível dos currículos nos currículos em vigor referindo entre outros aspectos, a extensão excessiva dos programas não susceptíveis de serem cumpridos no tempo disponível e as “metas curriculares demasiado ambiciosas” que impacto negativo na aprendizagem da generalidade dos alunos.
O Grupo de Trabalho é constituído por professores do ensino básico, secundário e superior e coordenado por Jaime Carvalho e Silva, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. O caderno de encargos é pesado, esperemos que resulte.
De facto, apesar de alguma melhoria nos resultados do PISA cujas provas diferem dos exames nacionais os resultados a Matemática continuam preocupantes, nota negativa superior a 50% no 9º ano e no 12º a média é acima do 10 mas as baixas notas a Matemática estão a condicionar seriamente a escolha de formação superior levando a uma distorção da procura.
Os resultados a Matemática ao longo da escolaridade obrigatória estarão associados, não numa relação de causa-efeito, a múltiplas variáveis incluindo variáveis de natureza sociodemográfica como a escolaridade dos pais.
Por outro lado e como os grupos de trabalho criados em 2016 importa considerar a dimensão modelo e conteúdos curriculares. Outras variáveis como o  número de alunos por turma, tipologia das turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica terão também algum peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
É neste conjunto de variáveis e na intervenção adequada que julgo residir a chave para alterar e reconstruir a relação dos alunos com a Matemática e melhorar o seu desempenho.
No entanto, acresce a esta complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais psicológica como, por exemplo, a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes de aprender matemática.
Finalmente, uma referência a uma dimensão nem sempre considerada mas que julgo pertinente neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis de qualificação de que matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que acontecesse.
De facto, este tipo de discursos não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a desmotivar-se. Aliás, é conhecido que muitos alunos escolhem trajectos escolares tendo como critério “fugir” da Matemática.
Não fica fácil a tarefa dos professores mas no limite e como sempre será a escola a fazer a diferença. Não podemos falhar apesar da dificuldade do caderno de encargos. Não podemos estar condenados a ter maus resultados a Matemática.
Aguardemos as recomendações do Grupo de Trabalho agora criado.

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