Lê-se no Público que foi publicado sexta-feira o despacho que cria o Grupo de Trabalho anunciado em Março com o
objectivo vai estudar o “fenómeno do insucesso” a Matemática no ensino básico e
secundário e produzir um conjunto de recomendações no sentido de melhorar o
ensino, aprendizagem e avaliação da Matemática.
O trabalho começará por analisar
a evolução dos resultados a Matemática nas duas últimas décadas, o registo das
taxas de sucesso, das taxas de recuperação, dos programas da disciplina, da
eficácia de medidas de apoio e das metodologias de ensino, entre outras dimensões. Pretende-se aferir da eficácia e eficiência dos diferentes planos e
medidas dirigidas à melhoria das aprendizagens e à promoção do sucesso escolar
adaptados nos últimos anos. O Grupo produzirá um relatório que será colocado em
consulta pública.
Recorde-se que dois grupos de
trabalho criados em 2016 direccionados para o básico e para o secundário consideraram
existirem “inúmeros constrangimentos” ao nível dos currículos nos currículos em
vigor referindo entre outros aspectos, a extensão excessiva dos programas não susceptíveis
de serem cumpridos no tempo disponível e as “metas curriculares demasiado
ambiciosas” que impacto negativo na aprendizagem da generalidade dos alunos.
O Grupo de Trabalho é constituído
por professores do ensino básico, secundário e superior e coordenado por Jaime
Carvalho e Silva, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra. O caderno de encargos é pesado, esperemos que resulte.
De facto, apesar de alguma
melhoria nos resultados do PISA cujas provas diferem dos exames nacionais os
resultados a Matemática continuam preocupantes, nota negativa superior a 50% no
9º ano e no 12º a média é acima do 10 mas as baixas notas a Matemática estão a
condicionar seriamente a escolha de formação superior levando a uma distorção da
procura.
Os resultados a Matemática ao
longo da escolaridade obrigatória estarão associados, não numa relação de
causa-efeito, a múltiplas variáveis incluindo variáveis de natureza sociodemográfica como a escolaridade dos pais.
Por outro lado e como os grupos
de trabalho criados em 2016 importa considerar a dimensão modelo e conteúdos
curriculares. Outras variáveis como o número de alunos por turma, tipologia das
turmas e das escolas, dispositivos de apoio às dificuldades de alunos e
professores ou questões de natureza didáctica e pedagógica terão também algum
peso e algumas vezes já aqui referimos estas questões.
É neste conjunto de variáveis e
na intervenção adequada que julgo residir a chave para alterar e reconstruir a
relação dos alunos com a Matemática e melhorar o seu desempenho.
No entanto, acresce a esta
complexidade um conjunto de outras variáveis menos consideradas por vezes mas
que a experiência e a evidência mostram ter também algum impacto.
São variáveis de natureza mais
psicológica como, por exemplo, a percepção que os alunos têm de si próprios como capazes de
ter sucesso, os alunos de meios menos carenciados percebem-se como mais capazes
de aprender matemática.
Finalmente, uma referência a uma dimensão nem sempre considerada mas que julgo pertinente neste âmbito, a representação sobre a própria Matemática. Creio que ainda hoje
existe uma percepção passada nos discursos de muita gente com diferentes níveis
de qualificação de que matemática é uma “coisa difícil” e ainda de que só os
mais “inteligentes” têm “jeito” para a Matemática. Esta ideia é tão presente
que não é raro ouvir figuras públicas afirmar sem qualquer sobressalto e até
com bonomia que “nunca tiveram jeito para a Matemática, para os números”. É
claro que ninguém se atreve a confessar uma eventual “falta de jeito” para a
Língua Portuguesa e às vezes bem que “parece”. A mudança deste cenário é uma
tarefa para todos nós e não apenas para os professores e seria importante que
acontecesse.
De facto, este tipo de discursos
não pode deixar de contaminar os alunos logo desde o 1º ciclo convencendo-se
alguns que a Matemática vai ser difícil, não vão conseguir ser “bons” e a
desmotivar-se. Aliás, é conhecido que muitos
alunos escolhem trajectos escolares tendo como critério “fugir” da Matemática.
Não fica fácil a tarefa dos
professores mas no limite e como sempre será a escola a fazer a diferença. Não
podemos falhar apesar da dificuldade do caderno de encargos. Não podemos estar
condenados a ter maus resultados a Matemática.
Aguardemos as recomendações do
Grupo de Trabalho agora criado.
Sem comentários:
Enviar um comentário