Fui buscar este título a um
artigo histórico de um dos meus Mestres, o Professor Joaquim Bairrão Ruivo, e
que também o usou com o sentido que tem na aviação. A situação é mesmo grave.
No recente trabalho Relatório da
OCDE que ontem aqui citei, “Reviews of School Resources: Portugal 2018” retoma-se algo que tem vindo ser questionado nos
últimos anos, designadamente nos dados divulgados pela Direcção-Geral de
Estatísticas da Educação e Ciência e em estudos do CNE, o envelhecimento brutal
da classe docente e as potenciais consequências negativas e que se agrava a
cada ano que passa. Como escrevi há algum tempo a este propósito, num país preocupado com o
futuro o cenário existente faria emitir, como agora se usa, um alerta vermelho
e agir em conformidade.
Alguns indicadores do relatório
“Perfil do Docente”, produzido pela Direcção-Geral de Estatísticas da Educação
e Ciência relativo ao ano 2016/2017 e base da informação da OCDE.
No universo da educação
pré-escolar apenas 13 profissionais da rede pública têm menos de 30 anos, 0.1%,
enquanto 6034 educadores de infância, 74% têm 50 ou mais anos. No 1º ciclo no
sistema público, entre 24 435 docentes apenas 16 têm menos de 30 anos, 0.1% do
total. Do outro lado, 38%, 9298 têm 50 ou mais anos.
No 2º ciclo, temos 19 398
docentes dos quais 872 têm menos de 30 anos, 4.5% e 10271 com 50 anos ou mais,
53%.
No 3º ciclo e secundário, em
63473 professores temos 290 com menos de 30 anos, 0.5%, e 30242 com 50 anos ou
mais, 48%.
Um outro indicador, a idade
média, mostra que na educação pré-escolar é de 52 anos, no 1º ciclo 47 anos, no
2º ciclo 50 anos e no 3º ciclo e secundário 49 anos.
Se considerarmos o grupo de
professores com 40 anos ou mais, temos 96% na educação pré-escolar, 78% no 1º
ciclo, 87% no 2º ciclo e 86% no 3º ciclo e secundário.
No ensino privado o perfil de
docentes no que respeita à idade é menos envelhecido.
São dados verdadeiramente
preocupantes.
Como é reconhecido em qualquer
país, a profissão docente e altamente permeável a situações de burnout, estado
de esgotamento físico e mental provocado pela vida profissional, associado a
baixos níveis de satisfação profissional. Também o estudo da OCDE refere
aspectos desta natureza e numa classe envelhecida o risco é, obviamente, mais
elevado.
Dados já conhecidos do estudo
realizado pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova em
parceria com a Fenprof sobre as condições pessoais dos professores considerando
dimensões relativas ao “desgaste emocional, “burnout” incluído”, e sobre as
condições em que estes trabalham - se há cansaço, desânimo, desmotivação ou,
pelo contrário, alegria” em que responderam perto de 16000 docentes e os
resultados são elucidativos e inquietantes. Quase metade dos docentes que
responderam revela sinais preocupantes de “exaustão emocional”, (20,6% mostram
sinais “preocupantes”, 15,6% apresentam “sinais críticos” e 11,6% têm já
“sinais extremos” de esgotamento) e mais de 40% não se sentem profissionalmente
realizado.
Foram identificados alguns
factores explicativos dos resultados, a idade dos docentes, as questões
relativas à carreira, organização (burocracia na escola e gestão hierarquizada
das escolas) e o comportamento indisciplinado dos alunos.
Na verdade, os dados só podem
surpreender quem não conhece o universo das escolas, como acontece com boa
parte dos opinadores que pululam pela comunicação social perorando sobre
educação e sobre os professores. Aliás, esta situação verifica-se noutros
países, sendo que para além dos professores, os profissionais de saúde e de
apoios sociais também integram os grupos profissionais mais sujeitos a stresse e
burnout.
Este quadro é inquietante, uma
população docente envelhecida e a revelar preocupantes sinais de desgaste.
Também se sabe que as oscilações
da demografia discente não explicam a saída de milhares de professores do
sistema, novos e velhos, como também não explicam a escassíssima renovação,
contratação de docentes novos. Sem estranheza, no universo do ensino privado é
bastante superior a presença de docentes mais jovens. Não esqueçamos ainda a
deriva política a que o universo da educação tem estado exposto nas últimas
décadas, criando instabilidade e ruído permanente sem que se perceba um rumo,
um desígnio que potencie o trabalho de alunos, pais e professores. Acresce que
sucessivas equipas ministeriais têm empreendido um empenhado processo de desvalorização
dos professores com impacto evidente no clima das escolas e nas relações que a
comunidade estabelece com estes profissionais.
Sabemos que os velhos não sabem
tudo e os novos nem sempre trazem novidade. Mas também sabemos que qualquer
grupo profissional exige renovação pelas mais variadas razões incluindo
emocionais, de suporte, partilha de experiência ou pela diversidade.
As salas de professores são cada
vez mais frequentadas, quando há tempo para isso, por gente envelhecida,
cansada e pouco apoiada que muitas vezes pergunta "Quanto tempo é que te
falta?"
Na verdade, ser professor é uma
das funções mais bonitas do mundo, ver e ajudar os miúdos a ser gente, mas é
seguramente uma das mais difíceis e que mais respeito e apoio deveria merecer.
Do seu trabalho depende o nosso futuro, tudo passa pela educação e pela escola.
A relativamente curto prazo
corremos o sério risco de dada a aposentação de milhares de docentes sentirmos
falta de professores.
Os sistemas educativos com
melhores resultados são, justamente, os sistemas em que os professores são mais
valorizados, apoiados e reconhecidos.
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