quarta-feira, 14 de abril de 2010

OS MIÚDOS E OS CARROS

Um dia destes, estava num grupo de que faziam parte algumas crianças que se entretinham de forma variada. Um deles, num canto, não largava a consola. Aproximei-me e vi o gaiato, uns oito anos, a conduzir um bólide por uma pista cheia de outras bombas. Percebendo a minha curiosidade resolveu mostrar as suas habilidades de condução na consola. O miúdo era mesmo bom.
Os carros sempre fascinam os miúdos. Quando eu tinha aquela idade também me atraíam. Para mais, na família nem sequer tínhamos automóvel o que mais longe os deixava e aumentava a atracção.
O mais curioso é que naquele tempo a maioria de nós, sobretudo os rapazes, como sabem os carros era coisa para rapazes, arranjávamos carro, os carros de rolamentos de esferas. Cada um tinha o seu e, às vezes, até mais do que um. Com pouco dinheiro conseguia-se uns rolamentos, o meu pai de vez em quando trazia lá do trabalho dele, era serralheiro, ou, em alternativa, nos sucateiros do Gato Bravo também se encontravam variados e em conta. As tábuas, bem, as tábuas arranjavam-se numa visita nocturna a algum obra na zona porque aquelas tábuas grossas das cofragens eram as melhores.
Os meus carros ficavam sempre um espectáculo, desculpem a imodéstia, e faziam sucesso. Por vezes, quando não se destinavam a corridas até tinham bancos, forrados com uns restos de alcatifa, coisa fina, como vêem. Tinham travões, as ruas onde andávamos com os carrinhos assim o obrigavam, que eram feitos com os saltos de borracha dos sapatos que proporcionavam travagens eficientes. Sempre pintados com as tintas que se surripiavam aos pais, até tinham faróis, tampas de latas pregadas nos sítios adequados simulavam-nos de forma excelente. Tratava-se do mais genuíno tunning.
Quanto à condução, era adrenalina da pura. Na velha Rua I, inclinada quanto baste e sem muito trânsito, grandes corridas ali se fizeram e também grande “malhanços” se produziram e, devo confessar, o alcatrão queima e esfola que não é brinquedo.
Mas é assim, mudam-se os tempos, tudo fica diferente, mas devo confessar, enquanto o gaiato corria um qualquer Grand Prix na consola, a mim consola-me a lembrança dos meus carrinhos de rolamentos.

1 comentário:

Nuno disse...

Que memórias as da infância. Também eu fiz carros de rolamentos, não tão aprumados, mas para o efeito serviam perfeitamente. Ainda tenho marcas dos malhos que dei no alcatrão quando iamos para as descidas experimentar e fazer corridas. Mas sem duvida que as marcas mais fortes s~~ao as que ficam dos bons momentos em que faziamos os carros todos juntos.
Foi há tão pouco tempo e hoje já está tudo tão diferente, já não vejo putos a jogar ao berlinde, nem a ir aos pássaros e muito menos a fazer carros de rolamentos. O carro da consola veio revolucionar a condução em portugal... bem ao menos poupa-se nos sapatos.