sábado, 27 de setembro de 2008

PRAXES, QUANDO HUMILHAR RIMA COM INTEGRAR

No Público de hoje e conforme é habitual nesta altura do ano, reaparece o tema das praxes académicas no ensino superior português. Seja do “aviso” do ministro Mariano Gago, seja da proibição decretada por algumas faculdades (má escolha), seja por orientações nesse sentido produzidas noutras, seja porque os estudantes assim o vão escolhendo, seja dos esforços do MATA (Movimento Anti-Tradição Académica), parece que as “actividades” de praxe estarão mais brandas do que em anos anteriores. Fico satisfeito, sobretudo se corresponder a decisões assumidas pelos estudantes no seu conjunto e não fruto de ameaças ou determinações da tutela ou da direcção das diferentes escolas, estamos a falar de gente crescida e, espera-se, auto-determinada.
É que relativamente às praxes habituais e aos discursos dos seus defensores, continuo a não conseguir entender como é que, a título de exemplo, humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, boçalidade rima com universidade, abusar rima com brincar, ofender rima com acolher, violência rima com inteligência ou coacção rima com tradição.
Talvez este discurso seja de um desintegrado, isolado, descurriculado, dessocializado e taciturno tipo que não acedeu ao privilégio e experiência sem igual de ser praxado ou praxar. Desculpem.

4 comentários:

Elfrida Matela disse...

Idem para mim. Também me sinto desintegrada, isolada, descurriculada, dessocializada e por esse motivo venho aqui apresentar o meu mais veemente protesto contra a faculdade de Direito de Lisboa porque, no meu tempo, não realizava qualquer tipo de praxes. E é por essa razão que agora me sinto assim e não consigo compreender o significado e importância das praxes actuais e o modo como humilhar rima com integrar, insultar rima com ajudar, abusar rima com brincar, etc, etc, etc...

Anónimo disse...

Sinceramente, todos os anos publicam o mesmo tipo de notícia. E que tal se fossem de “tour” por todas as Universidades do país e redactassem depois de ver com os proprios olhos?Fui praxada, praxei numa Universidade onde só após três matrículas se é autorizado a fazê-lo baixo o escrupuloso código de praxe e com uma comissao de praxe em todos os Cursos que vigia a sua aplicaçao. Vao às Universidades onde nao hà praxe e depois às Universidades onde a praxe decorre como acabo de descrever. Verao as diferenças. Desculpem os de Lisboa, mas nao sois exactamente um modelo tradicional de praxe.Termino referindo que 5 anos após ter terminado o curso, que durou 4matriculas, os meus “afilhados” de praxe e todos aqueles que praxei sao excelente amigos e mantemos todos o contacto. Sejam sérios e escrevam a história contada pelos dois lados. Deixem por favor de criminalizar a praxe e de atacar uma tradiçao que, no caso da minha Universidade, ajuda os novos alunos a conhecer outros alunos e os mecanismos académicos.

Zé Morgado disse...

Minha cara anónima,é exactamente por conhecer muito bem o meio, de há muitos anos e em diferentes universidades (também fora de Lisboa), que escrevi e penso o que constatou. Admito, outras opiniões, embora dificilmente me convença que praxar nos termos em que muitas vezes é feito seja a ÚNICA forma de integrar, seja lá isso o que for

J.Pierre Silva disse...

Sobre este e outros assuntos correlacionados: http://notasemelodias.blogspot.com/2008/09/notas-sobre-praxes-e-praxe.html