quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SAÚDE MENTAL, PARENTE POBRE DAS POLÍTICAS DE SAÚDE

De acordo o relatório Portugal Saúde Mental em Números 2013, hoje divulgado, só 16,2% das pessoas com perturbações mentais ligeiras e 33,8% das que sofrem de perturbações moderadas recebem tratamento em Portugal. O Relatório sublinha a situação particularmente grave da falta de estruturas vocacionadas para adolescentes e jovens que são frequentemente acolhidos em estruturas vocacionadas para adultos.
Por outro lado, Portugal apresenta a prevalência mais elevada de perturbações mentais (22,9%) dos oito países da Europa que integraram o estudo integrado no World Mental Health Survey Initiative, da OMS, realizado em 2010.
Acresce que, consta do mesmo relatório, existe suporte na investigação para se poder correlacionar a taxa de prevalência de doenças mentais com os níveis de desigualdades sociais e de saúde.
Verifica-se ainda, o que é corroborado por outros estudos, um aumento significativo no consumo de psicofármacos, assumindo especial significado os antidepressivos, transformando Portugal num dos países com taxas mais altas de consumo deste tipo de fármacos e que é consistente com uma taxa de prevalência significativa de patologias neste universo da saúde mental. Cerca de 15% da população portuguesa apresenta quadros patológicos de ansiedade e depressivas graves a moderadas, dados de 2010, que são muito superiores ao que se verifica noutros países, é duas vezes a que se verifica na Alemanha, por exemplo.
Embora as relações, comprovadas, entre os quadros de saúde mental e as condições sócio-económicas difíceis que atravessamos, a verdade é que se regista um aumento da procura nas consultas de pessoas em situações fragilizadas no quadro de desemprego e dificuldades económicas.
Sendo certo que não poderemos estabelecer de forma ligeira uma relação causal entre a saúde mental e as condições de vida, é também claro que não podem dissociar-se, numa linguagem simples, alguém que passa mal, dificilmente se sentirá bem.
Em muitas famílias, as dificuldades podem ser tão significativas, o desemprego do casal, por exemplo, que a desesperança instalada se constitua como gatilho para situações de mal-estar e o recurso a consultas, fármacos, consumo de álcool ou droga, ou ainda em caso limite à tentação do suicídio, uma preocupação que originou um Plano de Prevenção a operacionalizar, podem aparecer como uma via que se não deseja mas a que não se resiste.
Na verdade, a resiliência das pessoas tem limites.
Por outro lado, apesar de querer ser optimista a experiência tem mostrado que a doença mental é, nas mais das vezes, um parente pobre no universo das políticas de saúde. Quando a pobreza das pessoas aumenta e a pobreza dos meios e recursos também aumenta, o quadro é ainda mais grave.

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