terça-feira, 8 de outubro de 2013

EI-LOS QUE PARTEM, VELHOS E NOVOS ...


Segundo um relatório da Comissão Europeia, um em cada quatro portugueses, se tivesse hipótese, mudava-se para outro país de modo permanente e um em cada cem planeia partir nos próximos doze meses.
Esta vontade, imposição, de partir tem vindo a sustentar o aumento exponencial dos fluxos  migratórios.
Segundo dados recentes da OCDE a emigração de portugueses para países fora da União Europeia  aumentou mais do triplo entre 2010 e 2011, sendo que a organização estima que os números pequem por defeito.
Há algum tempo a imprensa divulgou a realização de um estudo internacional com o objectivo de conhecer e caracterizar o fenómeno crescente da emigração, sobretudo entre os mais jovens. O estudo envolverá Portugal, Grécia, Espanha e Irlanda, países profundamente atingidos pela crise económica, a passar  por severos programas políticos de austeridade e com níveis devastadores de desemprego.
Em Janeiro, o Secretário de Estado das Comunidades afirmava que nos últimos dois anos terão emigrado cerca de 200 000 portugueses, estimando que em 2013 os números sejam da mesma ordem de grandeza.
É também conhecido que, a par da Irlanda, somos o país de onde sai gente com maior qualificação o que exige ainda maior reflexão pelas consequências previsíveis.
Somos um país de emigrantes de há séculos pelo que este movimento de partida, só por si, não será de estranhar. No entanto, creio que é preocupante constatarmos que durante muitos anos a emigração se realizava na busca de melhores condições de vida, a agora a emigração realiza-se à procura da própria vida, muita gente, sobretudo jovens não tem condições de vida, tem nada e parte à procura, não de melhor, mas de qualquer coisa.
Este vazio que aqui se sente é angustiante, sobretudo para quem está começar, se sente qualificado e com o desejo de construção de um projecto de vida viável e bem sucedido.
Alguns inquéritos junto de estudantes universitários mostram como muitos, a maioria, admite emigrar em busca de melhores condições de realização pessoal e profissional apesar de muitos afirmarem que pretendem voltar.
Lembramo-nos ainda de intervenções de incentivo à emigração qualificada, posteriormente negadas e forma despudorada, por Passos Coelho e do Ex-Ministro Miguel Relvas dirigidas, por exemplo, a professores e jovens qualificados.
Parece-me relativamente claro que a questão central nesta matéria não é o movimento que desde há muito os portugueses realizam de procurar trabalho fora do país, trata-se também da construção de um projecto de vida auto-determinado. Sabemos, aliás, que é desejável em diferentes perspectivas, que estes fluxos se realizem.
O que me parece fortemente significativo é o que representa de descrença de tanta gente, de que seja possível desenvolver um projecto de vida viável e com potencial de realização pessoal e profissional no nosso país.
Nesto contexto, como tenho referido, as declarações dos responsáveis políticos assumem particular importância. Não podem assumir que a solução para os problemas das pessoas, por exemplo o desemprego, é abandonar o país, particularmente um país, Portugal, com sérias necessidades de mão-de-obra qualificada, um dos mais baixos níveis de qualificação da Europa e um dos grandes obstáculos ao nosso desenvolvimento, não pode acenar com a “sugestão” de emigração exactamente para a franja mais qualificada da nossa população. Trata-se uma visão absolutamente inaceitável.
Muita desta gente parte com amargura de uma terra, a sua, onde sentem que não cabem e o futuro … é um sonho impossível.
"Virão um dia ricos ou não ... virão um dia ou não."

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