Há algum tempo em conversas com miúdos do 2º e 3º ciclos discutia-se o que era essa coisa de ser um bom professor.
A maioria dos miúdos envolvia-se activamente e a continuidade das referências levou à identificação de uma resposta que se poderia sintetizar na ideia de que "bom professor é o que fala com a gente e explica bem".
Este entendimento lembrou-me, cito-o aqui frequentemente, o Mestre João dos Santos quando afirmava que alguém tinha sido seu professor "porque foi seu amigo".
De facto, o sucesso dos processos de ensinar e aprender assentam em dois eixos fundamentais, a qualidade do ensinar e a relação entre quem ensina e quem aprende. Do meu ponto de vista, a grande maioria dos professores estará equipada sobre o ensinar. A grande questão é que a nossa escola, de uma forma geral, não facilita a relação. Esta dificuldade decorre, fundamentalmente da extensão dos conteúdos curriculares das diferentes disciplinas e do número excessivo de disciplinas, designadamente no 3º ciclo. Os professores, muitos deles, sentem-se "escravos" do programa que tem de ser dado e do pouco tempo disponível para a construção da relação. Existem disciplinas com um tempo semanal, é obviamente muito difícil construir qualquer relação com os alunos.
Muitas vezes digo que os professores "falam" para o programa, para o explicar, e os alunos "falam" para o programa para o aprender. Não falam entre si sendo que, além disso, existe um grupo significativo de alunos que, por diversas razões como dificuldades ou desmotivação, não conseguem "falar" com o programa. Para estes, os professores vêem-se obrigados a falar par controlar os seus (maus) comportamentos.
Também por estas razões, entendo como urgente uma mudança na organização e conteúdos curriculares que tornassem mais fácil podermos ouvir os miúdos dizer "a gente tem bons professores porque explicam bem e falam com a gente".
Esta ideia não tem nada de romântico nem de utópico, assenta em algo de muito simples, a educação constrói-se com a relação que se alimenta com a comunicação. Sempre.
2 comentários:
Tem pessoas no nosso Instituto brilhantes teoricamente que nas aulas falam para eles próprios.
Abraço
António Caroço
Pois
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