O Ministro da Educação na entrevista há pouco concedida à RTP enunciou a questão urgente que está por fazer, a revisão curricular. Gostei de ouvir, registo, mas relembro que também a Ministra Isabel Alçada anunciou uma reforma curricular que na semana seguinte, (preenchida com muitas reacções de "corporativismo científico" de muitas associações profissionais), passou a um "mero ajuste", expressão da Ministra.
Esperemos para ver.
Parece claro, afirmo-o de há muito, que sem uma séria reforma curricular não teremos alterações significativas e sólidas, não artificiais, nos conhecimentos dos miúdos e na qualidade do trabalho global das escolas. Nesta mudanças assumem especial centralidade as duas ferramentas fundamentais de acesso ao conhecimento, o domínio do português e da educação matemática.
Na actual matriz curricular o tempo de trabalho destinado a português e à educação matemática, agora aumentado, dificilmente permitirá obter melhores resultados, apesar de iniciativas como o Plano Nacional de Leitura, com resultados que devem ser realçados, ou o Plano de Acção para a Matemática ou do trabalho das escolas que, através de dispositivos de apoio próprios, tentam minimizar as dificuldades de muitos alunos. Dado o volume de dificuldades e os recursos das escolas, estas iniciativas acabam, em regra, por ter como destinatários menos alunos do que o necessário.
No entanto, para além disto, defendo um primeiro ciclo com seis anos e uma reorganização de conteúdos para estes primeiros anos de escolaridade obrigatória em que o Português e a e a Educação Matemática devem ocupar um lugar central. Creio que de uma forma geral se entende que o correcto domínio da língua de trabalho, o português, é um requisito fundamental para as aprendizagens em todas as áreas curriculares, bem como a literacia matemática, base do conhecimento científico.
Por outro lado, considero também que o número de disciplinas e a extensão e natureza dos conteúdos curriculares se associam às questões mais frágeis do sistema educativo, designadamente no 3º ciclo, insucesso, absentismo e indisciplina, tudo dimensões fortemente ligadas aos níveis de motivação e funcionalidade percebida dos conteúdos curriculares. A lógica da "disciplinarização" excessiva dos saberes tem informado o sistema educativo mas também o sistema de formação de professores durante demasiado tempo, o que suporta esta disciplinarização sem sentido, 14 disciplinas para 25,5 horas de aulas no 3º ciclo. É, aliás, curioso notar, se bem estivermos atentos, a frequência com que a propósito de qualquer saber, se defende a existência de mais uma disciplina.
Deste quadro resulta, do meu ponto de vista, a necessidade imperiosa de mudança significativa na organização e conteúdos curriculares. Será desta?
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