A imprensa de hoje regista a decisão da Câmara de Leiria de encerrar alguns parques infantis por razões de segurança. Já muitas vezes aqui tenho referido como as questões da segurança que envolvem os mais novos são fundamentais, continuamos a ser dos países da Europa com mais acidentes com crianças.
No entanto, esta referência ao encerramento dos parques infantis deixou-me a pensar. Há muitos anos, lembro-me bem, ainda brincávamos na rua, melhor dizendo, ainda brincávamos. É certo que muitos de nós não tiveram muito tempo para brincar, logo de pequenos ficaram grandes. Não tínhamos muitos brinquedos, mas tínhamos um tempo e um espaço onde cabiam todas as brincadeiras.
Entretanto, chegaram outros tempos. Tempos que não são de brincar, são de trabalhar. Roubaram aos miúdos o tempo e o espaço que nós tínhamos e empregam-nos horas sem fim numas fábricas de pessoas, escolas, assim lhes chamam. Aí, os miúdos trabalham a sério pois, só assim, serão grandes a sério, dizem os mais velhos. Às vezes, alguns miúdos ainda brincam de forma escondida, é que brincar passou a uma actividade clandestina que só pais ou professores “românticos” e “incompetentes” acham importante. Muitos outros miúdos vão para umas coisas a que chamam “tempos livres”, que de livres têm pouco, onde, frequentemente, se confunde brincar com entreter e, outras vezes, acontece a continuação do trabalho que se faz na fábrica.
Existe ainda um outro grupo muito grande crianças que passam demasiado tempo trancados num ecrã, sós, em "brincadeiras" cujos riscos são de considerar muito atentamente.
Se perguntarem aos miúdos, vão ficar a saber que brincar é a actividade mais séria que fazem, em que põem tudo o que são, sendo ainda a base de tudo o que vão ser.
Os parques infantis encerrados poderão ser uma ameaça para a segurança dos miúdos, mas insisto, roubar-lhes o tempo e o espaço para brincar é igualmente uma ameaça muito, muito grande.
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