Como cidadão atento e informado que procuro ser e como tinha algum tempo sentei-me com o jornal e a assistir ao Telejornal da RTP.
Entre as várias notícias alinhadas falava-se, adivinhem ... isso mesmo, da crise, interna, europeia e grega em particular, lembro-me ainda de uma assim anunciada "cimeira" entre Passos Coelho e António José Seguro e de repente a minha atenção é captada por uma notícia que durou bastante tempo, relembro que é no Telejornal, no "primetime", na estação de serviço público. Em Vizela foi roubado o telemóvel do pároco, isso mesmo, roubaram o telemóvel do Sr. Padre.
Devido ao impacto nacional do acontecimento e às imprevisíveis consequências que este raro e gravíssimo incidente podem assumir para o país numa altura em que a sua coesão está ameaçada com o buraco da madeira e os dislates de Alberto João, a RTP deslocou uma equipa de reportagem para o local, para o terreno como se diz, e começou por ouvir o Sr. Padre que era mostrado a manipular expeditamente um telemóvel para marcar eventos na agenda. Pois o Sr. Padre estava naturalmente preocupado com a tragédia que se tinha abatido sobre a região, foi ouvido sobre toda a situação e o grande e tormentoso problema nem era propriamente o telemóvel mas a agenda que tinha já eventos para 2012 porque, eu juro que ouvi o Sr. Padre, "se não se utilizarmos estes meios quem é que os vai utilizar", foi mesmo isto que foi dito.
A peça prosseguiu com o Sr. Padre em plena celebração litúrgica na igreja e, como não podia deixar de ser numa reportagem que se preze, foram ouvidos dois populares.
O primeiro, homem expedito e informado, confirmou que o Sr. Padre registava tudo no telemóvel. O segundo, um pouco mais velho, primeiro informou que não usa telemóvel porque não sabe ler e em seguida também disse que o Sr. Padre utiliza muito o telemóvel porque nos telemóveis "sabe-se tudo".
A peça terminou com um apelo do Sr. Padre ao bom senso do ladrão, para que lhe enviasse pelo menos a agenda para o correio electrónico que constava da mensagem que ele tinha enviado para o seu próprio telemóvel, o roubado.
Depois desta longa peça, um modelo de serviço público, creio que o Telejornal continuou com uma irrelevância noticiosa, já não prestei muita atenção, creio que se referia à vitória com maioria absoluta da esquerda francesa nas eleições para o Senado, controlado pela direita desde 1958.
Voltei ao meu jornal, não ligo a pormenores noticiosos sem critério de pertinência jornalística.
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