No CM de hoje aparece uma referência a um programa de educação parental destinado a pais de crianças ou jovens em risco desenvolvido com o apoio da Fundação Gulbenkian e sob a coordenação do Professor Daniel Sampaio. O Programa decorreu durante três anos e envolveu pouco mais de 1000 pais. Já em algumas ocasiões me tenho referido no Atenta Inquietude a esta questão, as dificuldades, diria incapacidade, que muitos pais sentem para lidar com os problemas colocados pelos filhos. Do meu ponto de vista não tem tido a atenção que merece.
Segundo alguns dados conhecidos, relativos a 2010, cerca de 9%, dos casos de pedido de ajuda às Comissões de Protecção de Crianças e Jovens foram realizados pelos pais, o que corresponde a perto de 2350 situações e continuam a aumentar. Na maioria dos pedidos tratava-se obviamente de situações em que os pais já não conseguem controlar os comportamentos e atitudes de adolescentes, ou mesmo de crianças, pelo que recorrem às Comissões em situação muitas vezes de desespero e completamente fora de controle. Estarão lembrados que, de acordo com alguma imprensa, os pais de uma das jovens que recentemente esteve envolvida no episódio de agressão a uma outra com a colocação da gravação no Youtube já tinham solicitado ajuda. As Comissões de Protecção, através de um esforço de mediação, procuram evitar a situação, por vezes desejada pelos pais, da retirada da criança ou jovem do agregado familiar com recurso à institucionalização. Parece correcta a tentativa de manter até ao limite a integridade da família, desde que em condições de funcionalidade e equilíbrio.
A experiência mostra-me de há muito que o exercício da parentalidade, em algumas circunstâncias, não é tarefa fácil, as crianças e adolescentes colocam problemas novos com que muitos pais, e até profissionais, têm dificuldade em lidar. Embaraça-me a excessiva ligeireza com que frequentemente se culpam os pais pelos problemas dos filhos. Enquanto pais serão responsáveis, mas por vezes os problemas estão para além da capacidade de resposta das famílias. Não estou a falar dos casos de negligência, que também existem e devem ser objecto de intervenção, mas de dificuldades reais sentidas por pais que querem ser bons pais e da inexistência de estruturas de apoio acessíveis e generalizadas que ajudem a lidar com essas dificuldades.
Neste contexto e porque os problemas das crianças e jovens em idade escolar não podem deixar de envolver as escolas, parece-me imprescindível que nos estabelecimentos educativos ou próximo e com funcionamento articulado, existam dispositivos de apoio às famílias e ao exercício da parentalidade que ajudem no trabalho dos pais e à relação destes com a escola, de que o Programa apoiado pela Gulbenkian é apenas um exemplo.
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