No Expresso encontra-se um trabalho interessante sobre a proliferação de grupos de pais na aplicação WhatsApp. É um fenómeno recente que o confinamento potenciou.
O cenário descrito parece, sem estranheza, mas com alguma
inquietação, reproduzir o que genericamente se pode afirmar relativamente às
redes sociais, podem constituir-se como excelentes redes de comunicação e
conhecimento ou, lado B, tornarem-se formas intrusivas de relação,
veicularem ruído e de desinformação, para ser simpático na descrição. No fundo,
o que poderia fazer parte da solução para uma melhor e imprescindível melhoria
na relação entre pais e escola, agilizando contactos entre pais e entre pais e
escola, pode acabar por criar problemas acrescidos a professores, alunos e, por
tabela, também aos pais e à sua função educativa. A peça do Expresso é
elucidativa.
Os recursos digitais podem e devem ser ferramentas que integrem
os dispositivos de relação entre pais e entre pais e escolas, tal como entre a relação
entre pessoas ou entre grupos e instituições. No entanto, como todos os
dispositivos de relação solicitam regulação na sua utilização.
Se tal não acontecer, será mais um problema que entra na
escola que tantas dificuldades ainda sente na operacionalização eficaz da
relação entre pais e escola.
Do meu ponto de vista a questão central continua a ser que
relação regular se estabelece entre pais e encarregados de educação e a escola.
Trata-se de uma necessidade que se verifica na generalidade os sistemas
educativos. Parece dispensável sublinhar a sua importância e na situação mais
particular de alunos com necessidades especiais este envolvimento é crítico e,
muitas vezes, não acomodado da melhor forma, para recorrer a um termo em moda.
No entanto, neste universo, a relação entre os pais e a
escola devem considerar-se outros aspectos e que, provavelmente, envolvem os
pais que menos integrarão grupos no WhatsApp. Para além dos pais negligentes
que existem e requerem outra abordagem, creio que os pais e encarregados de
educação que apesar de o poderem fazer vão pouco à escola ou nunca vão, se
podem dividir em dois grupos, os pais que não alcançam a escola e os pais que a
escola não alcança.
Os primeiros são os que entendem, consciente ou
inconscientemente, que a sua presença é irrelevante, não sabem discutir a
escola, a escola é que sabe e decide sobre os filhos e deve resolver os seus
problemas. Os outros, são os pais a quem o discurso produzido com alguma
frequência pela escola sobre os seus filhos os leva a afastarem-se progressivamente.
A experiência mostra que quando as crianças são mais pequenas, pré-escolar e 1º
ciclo, os pais vão aparecendo e começam a afastar-se sobretudo a partir do 2º
ciclo.
Neste quadro, creio que se o desejo de maior envolvimento
dos pais na vida escolar dos filhos for mais do que uma retórica, o sistema,
através dos modelos de funcionamento, autonomia real e recursos das escolas,
deverá introduzir alguns ajustamentos no sentido que algumas boas práticas
sustentam.
Redefinição urgente do papel dos Directores de Turma e das
condições de exercício da função pois são peças nucleares nos processos
educativos e estão muitas vezes entregues a tarefas quase administrativas,
criação de dispositivos com professores motivados, existem muitos, que possam
ir ao encontro dos pais que a escola não alcança. Talvez da carga burocrática
que rouba tantas horas de professores se pudessem recuperar algumas para outro
tipo de trabalho não docente, mais útil e mais motivador.
Mudança nas formas e suporte do contacto, relação,
comunicação entre a escola e a família, por exemplo, repensar a tipologia e
conteúdos das reuniões de pais. Será neste contexto que os recursos digitais
podem ser úteis se utilizados de forma regulada, não tóxica.
Parece também importante a existência de estruturas de
mediação entre a escola e a família o que implica a existência de recursos
humanos qualificados e disponíveis.
Recurso concertado às Associações de Pais como mediadores
entre a escola e os pais que não vindo à escola, também não são dos que
integram as Associações.
O espaço é curto, mas creio que no actual quadro é possível
ir um pouco mais longe na tentativa imprescindível de maior envolvimento dos
pais na vida escolar dos miúdos, questão em mudança, sempre, e que obriga a uma
contínua reflexão sobre os papéis e os processos e formas de envolvimento.
O risco da inacção é, por exemplo, dar asas ao que acontece,
por vezes, com o funcionamento de grupos de pais no WhatsApp, que se transforma
em mais um problema.
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