O INE divulgou os dados relativos ao abandono escolar precoce no primeiro trimestre deste ano que se situou em 5,1%, a mais baixa taxa de sempre. Trata-se de um indicador estatístico do Eurostat, que é usado por todos os países europeus para medir a percentagem de jovens entre os 18 anos e os 24 anos que chegam ao mercado de trabalho sem o ensino secundário completo e que não estão a frequentar um programa de formação. Continua, pois a verificar-se tendência de descida que está abaixo da média europeia, 10%. Algumas notas e alguma prudência.
Recordo que no final de 2021 a Direcção-Geral de Estatística da Educação divulgou que estava a desenvolver uma ferramenta com o objectivo de avaliar e construir uma informação mais robusta sobre o abandono escolar. Em linha com o que já e feito noutros países pretende-se construir informação que permita o acompanhamento próximo do aluno e das escolas, identificando perfis de risco ou preditores de abandono que possibilitarão o desenvolvimento de intervenções oportunas prevenido e combatendo o abandono escolar. Já agora é de desejar que o dispositivo a estruturar não seja mais um contributo para a burocracia platafórmica. Se assim for não ficará do lado da solução, mas do problema.
No mesmo sentido, importa ainda recuperar que em
2020 o Tribunal de Contas divulgou um relatório defendendo que no sistema
educativo nacional não existem indicadores ajustados para medir o abandono
escolar, o que não permite conhecer "os reais números do Abandono em
Portugal, frustrando quer a implementação eficiente das medidas preventivas e
de recuperação dos alunos em Abandono ou em risco de Abandono, quer o
direcionamento adequado do financiamento".
Relativamente aos dados agora
conhecidos, uma primeira nota para realçar o trabalho de alunos, professores,
escolas e famílias.
Para além dos efeitos do
prolongamento para 12 anos da escolaridade obrigatória nos resultados dos
últimos anos, o ME tem vindo associar esta evolução ao sucesso de programas
como as escolas TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), ao
Programa de Promoção do Sucesso Escolar, ao Apoio Tutorial Específico, à aposta
no Ensino Profissional, e Autonomia e Flexibilidade Curricular e, obviamente, à
revolução na educação inclusiva.
A segunda nota para relembrar que
apesar do abaixamento do abandono escolar precoce, o caderno de encargos que
ainda continuamos a ter pela frente é pesado, pois sendo importante que os
alunos não abandonem ainda precisamos de assegurar que a sua continuidade tenha
sucesso. Os dados conhecidos de escolas e agrupamentos para construção dos
rankings evidencia isso mesmo. Aliás, à semelhança do que tem sido o caminho da
designada educação inclusiva, não basta que tenhamos os alunos com necessidades
especiais “entregados” nas escolas regulares para que possamos falar de
educação inclusiva.
Temos indicadores que mostram que
muitos alunos, estando “ligados” à máquina educativa, ainda lutam, por razões
diversas, por uma trajectória bem-sucedida e importa que cumprir a escolaridade
signifique mesmo carreiras escolares promotoras de competências e capacidades.
Só assim se promove a construção
de projectos de vida viáveis, que proporcionem realização pessoal e base do
desenvolvimento das comunidades.
Neste caminho é fundamental que a
qualidade dos processos educativos e que a existência de dispositivos de apoio
competentes e suficientes às dificuldades de alunos e professores na
generalidade das comunidades educativas seja uma opção clara pois é uma
ferramenta imprescindível à minimização do insucesso.
Por outro lado, importa não
perder de vista a população que abandona e que está em alto risco de que tal
aconteça. Neste sentido é fundamental que a oferta de trajectos diferenciados
de formação e qualificação ou iniciativas em desenvolvimento como o programa
Qualifica, sucessor do Novas Oportunidades, ou os anunciados no âmbito do
ensino superior tenha os meios necessários e se resista à tentação do trabalho
para a “estatística”, confundindo certificar com qualificar.
Apesar dos indicadores de
progresso é necessário insistir, merecemos e precisamos de mais e melhor
sucesso e qualificação e menos abandono e exclusão.
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