Umas notas repescadas que uma discussão recente me parece tornar oportunas.
Acho sempre curiosas as
discussões em torno das “questões ideológicas” designadamente no universo da
educação. Tenho para mim que não existem políticas públicas de educação, ou de
outra área, que sejam neutras, assépticas, imunes, etc. em matéria de valores
sociais ou ideologia, seja tudo isto o que for.
Ao defender, por exemplo, princípios de educação inclusiva, já me tem acontecido ser “acusado” de produzir um
discurso ideológico. Muito provavelmente os meus interlocutores esperariam que
me procurasse “defender” através da evidência científica. No entanto, a minha
resposta começa habitualmente com algo como, “ainda bem que fui claro, o meu discurso corresponde
a uma visão de sociedade e, de educação e de escola. Agora vamos à evidência
científica que a sustenta". Provavelmente, nas mais das vezes, ficamos na mesma, cada qual com a
sua visão ideológica, pois claro.
Acontece ainda que, com
frequência se confunde ideologia com partidarismo. Como já afirmei, tenho uma
visão ideológica o mundo que me rodeia, mas não consigo encaixar-me numa visão
partidária o que, naturalmente, será uma limitação da minha parte.
A verdade é que já cansa a forma
habilidosa como muitas questões são abordadas em função da “ideologia”.
Boa parte das pessoas que
contestam o que afirmam constituir uma visão ideológica entende que o que
defendem não tem carga ideológica, é asséptico, sendo que as ideias contrárias,
essas sim, são sustentadas pela ideologia e devem ser combatidas.
Tantas e tantas vezes tropeço com
este entendimento. Tantos interlocutores me dizem com a maior tranquilidade que
quando os estudos ou a experiência não vão ao encontro das suas ideias, certas
e pragmáticas, os estudos são mal feios e contaminados pela ideologia ou que a
experiência não serve de argumento. Quando discordo, o meu discurso é
ideológico e o do interlocutor é correcto, asséptico do ponto de vista
ideológico, obviamente, suportado com a evidência científica que ao meu é
negado porque os estudos … são ideológicos. Sim, como disse, o que penso tem
uma carga ideológica, é assim que entendo o mundo.
Na verdade, não acredito em
visões de sociedade sem arquitectura ideológica. Isso não existe, só por
desonestidade intelectual se pode afirmar tal.
Como disse e reafirmo, há décadas
que não tenho qualquer espécie de filiação partidária, não me orgulho nem me
queixo, é assim que penso. No entanto, tenho posições que são de natureza ideológica
sobre o que me rodeia e o que respeita à vida da gente.
Não as entendo como únicas,
imutáveis ou exclusivas, aliás, gosto mais de discutir e aprender com alguém
que também assim se posiciona, sem manha, sem a falsidade do “não tenho
ideologia” como se isso fosse uma fonte de autoridade.
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