Peço desculpa pela insistência. Continuo a dar conta da frequência com que recorremos à mudança de terminologia como instrumento de mudança acreditando que esta ocorre apenas porque a designação se altera.
Parece também ser verdade que cada novo termo é divulgado para
ser, só por si, uma inovação e não existe área que em não se afirme a narrativa
da inovação. Também é certo que os conhecedores de estratégias de
comunicação, também conhecidas por marketing, sabem que alterando a designação
de um “produto” pode impulsionar-se uma nova “vida” para esse produto.
Vem esta introdução a propósito da onda de “capacitação” que
nos está a atingir, o mantra passou a ser capacitar. Em múltiplas iniciativas, institucionais ou privadas, há que capacitar tudo o
que mexe, pois, aparentemente, mexe mal. Sem estranheza, nesta onda navegam inúmeros surfistas que espalham a boa nova, em qualquer lugar e para qualquer bolsa
Vai daí, e só para me situar no universo que melhor conheço,
a educação, desatamos a capacitar em todas as direcções.
Há algum tempo promovia-se formação de professores, uma das
áreas em me tenho movido, mas, certamente devido aos maus caminhos seguidos,
mea culpa, agora promove-se capacitação de professores em áreas sem fim e todas
certamente da maior necessidade e pertinência.
Umas das áreas em alta na onda de capacitação é a área das “emoções”.
Ao que parece e sem que nos déssemos conta durante décadas, as escolas são
também geladas emocionalmente, a generalidade dos professores não sabe lidar
com emoções, tal como alunos, os técnicos que estão nas escolas incluindo os
funcionários. Dito da maneira actual, não estão capacitados.
Percebe-se, assim, que nos últimos tempos se tenha
desencadeado uma onda de promoção, perdão, capacitação, nas escolas com a
mobilização de imensos projectos e iniciativas de escala variável visando o
desenvolvimento da inteligência emocional, da empatia, da Social-Emotional
Learning (SEL) e outras designações.
É obviamente importante registar o esforço no âmbito da
formação, aliás, capacitação, dos profissionais da educação, mas, certamente
por incompetência ou desconhecimento vou sentindo algumas reservas face a esta
onda, que pela visão mágica com que parece ser informada, quer pela regular
apresentação de um receituário ou programa que garante que se vai aprender a
fazer o que nunca foi feito nas escolas, “lidar com as emoções” por exemplo, independentemente
da formulação. Dito isto, sublinho que em muitas circunstâncias nos
confrontamos com dificuldades neste domínio.
Estávamos habituados a dar aulas, a ensinar, a leccionar,
mas agora capacitamos os alunos, ah, e já agora também é preciso capacitar os
pais.
Aproveitando o “tsunami” de capacitação, também será importante
capacitar as lideranças das escolas e todos os técnicos que nelas trabalham e,
evidentemente, tal como os professores, promover essa capacitação em múltiplas
áreas.
Sendo optimista, em pouco tempo teremos um sistema educativo
totalmente capacitado
Só ficará mesmo a faltar, acho eu, a capacitação na promoção
de diferentes dimensões das políticas públicas de educação.
Bom, agora vou voltar para um trabalho de auto-capacitação
que estava a realizar, ler uns artigos sobre trabalhos recentes na minha área.
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