No contexto grave que atravessamos com a falta de docentes levando a que, nesta altura do ano lectivo ainda tenhamos alunos sem professor a algumas disciplinas, a realização do Seminário, “Faltam Professores! E Agora?”, organizado pelo Conselho Nacional de Educação suscitou múltiplas referências na imprensa.
Ainda me consigo surpreender neste
universo que julgo conhecer melhor. Na abordagem ao que serão as causas ou motivos da
falta de docentes e em linha com o que habitualmente se vai ouvindo e lendo,
afirma-se que uma das causas será o envelhecimento e consequente aposentação de
um número muito significativo de professores, outra será a baixa atractividade
da profissão e encontram-se ainda referências ao abandono da profissão também
por um número elevado de docentes.
Estas afirmações são produzidas por
gente com responsabilidades em matéria de educação ao longo de diferentes períodos, bem como
por actores de há muito presentes no mundo da educação.
A sério?!
O envelhecimento é uma causa da
falta de professores? Não, o envelhecimento é um processo natural que nos toca a
todos. A causa é a incompetência de decisões em matéria de políticas públicas
de educação quando há muitos anos se conhecem estudos sobre a demografia dos
professores e se sabia … que os anos passam e chega a idade da reforma. As causas
remetem para a irresponsabilidade da narrativa dos “professores a mais”, do “convite
à emigração”, da condução de políticas que inibem a óbvia necessidade de renovação
de qualquer grupo profissional.
Fala-se da baixa atractividade da
carreira como causa. Como? A carreira de professor deixou de ser atractiva, mais
uma vez, em consequência da gestão incompetente que sucessivas equipas
ministeriais fizeram desta matéria. Maria de Lourdes Rodrigues ou Nuno Crato
foram bons exemplos desta incompetência com resultados desastrosos em matéria
de carreira docente. Aliás, há pouco tempo Maria de Lourdes Rodrigues a propósito
desta matéria afirmou despudoradamente, “Não sei como chegámos aqui assim. Não
sei e não quero saber.” Mas nós sabemos as consequências na desvalorização dos
professores, na definição de modelos de carreira inadequados (incluindo o estatuto
salarial), de modelos de avaliação injustos e incompetentes.
É isto e o que aqui não refiro
que tem tornado a profissão menos atractiva. Existem responsáveis.
A terceira nota relativa ao abandono
da profissão, seja por mudança profissional, seja pela aposentação precoce com
perdas, mais uma vez esta situação é
também uma consequência do que referi no ponto anterior e não uma das causa da
falta de professores.
O que é que não se percebe?
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