De há uns anos para cá têm surgido referências ao bem-estar, ao efeito terapêutico, até quase ao nível do milagre, que muitíssimas fontes nos podem proporcionar e aos mais variados níveis. Muitas vezes estas referências são sustentadas por uma afirmada base científica.
Multiplicam-se as chamadas de atenção para múltiplas actividades de
natureza mais ou menos sofisticada ou com proveniência mais ou menos exótica que
fazem bem a tudo e mais alguma coisa.
Descobrem-se e publicitam-se as inúmeras propriedades terapêuticas ou, mais
simplesmente, promotoras de bem-estar de mil e uma plantas ou produtos mais ou
menos sofisticados e com as mais diversas origens.
Apregoam-se a os efeitos extraordinários de aromas e
objectos.
Todos os dias conhecemos novas propostas à nossa disposição
em requintados espaços que criam um menu infindável de cuidados com lamas e
águas e uma combinação inesgotável de soluções que nos transformam noutros
seres.
Dizem-nos que os animais têm uma enorme capacidade de nos
fazer sentir melhor em múltiplos aspectos e a escola é variada.
Uma primeira nota que ao ir constatando tamanha oferta
sempre me ocorre e me faz pensar, é sobre o que temos vindo a fazer dos nossos
estilos de vida que nos tornou permeáveis e instalou em nós a necessidade de
nos envolvermos e nos convencermos de que tudo isto, no todo ou em parte, é A
solução, seja para o que for. Importa que, para além de eventuais efeitos terapêuticos,
se considere o efeito placebo e o peso do marketing.
Uma outra nota que me parece importante, independentemente
do recurso a tal oferta, é não esquecer o papel das pessoas no nosso bem-estar.
Tendemos a viver cada vez mais isolados ainda que escondidos na imensidade das redes
sociais com inúmeros amigos. Parece importante não esquecer que o essencial do
nosso bem-estar advém das relações com os outros, gostar e ser gostado,
respeitar e ser respeitado, ser conhecido e reconhecido, conhecer e reconhecer,
ajudar e ser ajudado, falar e escutar, estar atento e receber atenção, manter a
dignidade e proteger a dignidade dos outros, etc.
O resto, desculpem lá, em boa parte tratar-se-á de ocupação
de tempos livres, com melhor ou pior qualidade.
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