Há poucos dias, numa conversa com gente da educação, profissionais e amadores, ou seja, educadores e pais, dizia-se que os miúdos andam muito “indisciplinados”, logo no jardim-de-infância, acrescentavam preocupados com os desatinos dos miúdos.
Não tenho nenhuma convicção em que
os miúdos estejam a vir com mais dificuldades de origem do que é habitual. Além
de que não se podem trocar, uma vez que são fornecidos sem garantia e também
sem manual de instruções. Pode acontecer, naturalmente, que o “desatino” venha
de dentro deles, mas talvez não tenham nascido com ele. Talvez para os perceber
a eles tenhamos que olhar para nós.
Pode ser que eles gritem tanto e
em qualquer circunstância porque nós estamos a ficar mais surdos, ou seja,
ouvimo-los pouco, falamos para eles, mas não os ouvimos. Pode até acontecer que
eles aprendam também a ficar surdos e depois também já não nos ouvem.
Pode ser que eles pareçam não
aceitar regras e se comportem de forma desregulada porque nós, pelas mais
variadas razões, começámos, de mansinho, a ter medo de dizer Não. Eles
aprenderam que tudo, ou quase tudo, pode ser sim e mesmo que digamos não, com
uma birrazinha bem feita, esse não transforma-se em sim, é uma questão de
tempo.
Pode ser que os miúdos façam
asneiras grossas porque nós nem reparámos muito bem quando eles começaram a
fazer asneiras pequenas e agora já estamos tão aflitos que nem sabemos o que
fazer.
Pode ser que muitos miúdos tenham
coisas e actividades de mais e atenção de menos, servindo-se então do que fazem
e como fazem, para solicitar a atenção que é um bem de primeira necessidade e
não substituível por “montes” de coisas e actividades “fantásticas”.
Pode até acontecer que os
desatinos dos miúdos façam parte do kit de sobrevivência com que todos
nascemos, e que os faz emitir sinais alertando para que alguma coisa não vai
bem.
Finalmente, talvez esta conversa
seja ela própria um desatino. A gente aprende com os miúdos o que eles aprendem
connosco.
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